Impressões
de uma institucionalidade perdida: expectativas de futuro
Falo da Suframa, a organização que alberga
minha profissionalidade por 30 anos. Gostaria que as condições institucionais fossem
diferentes. Mas a tendência é da sua extinção, salvo haja um governo estrategicamente
forte. E ainda assim faltaria muito, senão vejamos:
De plano, revejo meu idealismo ao ajudar a
organização na implantação do programa de interiorização. O que houve? Havia,
por um lado, boa vontade com uma sistemática criteriosa para potencializar as
condições infraestruturais&econômicas do chão amazônico. Por outro,
todavia, prevalecia a perspectiva da política minúscula, aquela que retarda e
até mesmo impede a realização de projetos. Resultado? Não avançamos e estamos
obstaculizados com os passivos do macularam a estratégia do programa. O
programa representa uma moeda onde sua dupla face deve estar em sintonia com o
autodesenvolvimento.
Em seguida, relembro o ideário de
transformar os investimentos em P+D decorrentes da Lei de Informática num
grande impulsionador de uma ambiência inovadora. Aqui, estancamos numa grande
encrenca, pois não conseguimos perceber que as firmas que trazem seus pacotes
tecnológicos prontos, reproduzindo seus capitais por meio do cumprimento de
PPB, não têm intenção real de aplicar os recursos no desenvolvimento de
melhorias&inovações. Em caráter específico, até criam seus institutos, mas
no geral os resultados são pífios. Pode-se perceber que, no geral, a caixa
sistêmica do processo de inovação decorrente apenas aponta para inputs, sendo
muito insuficiente nos outputs.
O CBA, enfim, todos já sabemos. Continua à
mercê do egocentrismo do tecnicismo estatal, que impede sua emancipação.
Perdemos 14 anos com a não–implantação imediata da FAPEAM, estamos perdendo
outros iguais com a indecisão concernente a esse importante mecanismo de autodesenvolvimento.
Uma grande indecisão histórica?!
A TSA é o novo mercado de trabalho para
advogados, que oferecem às firmas incentivadas pendengas judiciais para
suspensão de pagamentos futuros e resgates pretéritos. Ao que parece,
argumentando a inconsistência, no sistema tributário, da sua base de cálculo em
confronto com a de tributo. A isso, soma-se a definitiva perda da autonomia
financeira em decorrência da conta única da União.
Administrativamente, vimos perdendo status
com as administrações que geram problemas frente ao bom®ular ordenamento
da coisa pública. Essa tendência é antiga, pois vem desde o escândalo do
colarinho verde, adoçado com o do açúcar, desbravando até os atuais processos
administrativos&policiais.
Portanto, a Suframa está em xeque em quase
todas as frentes&dimensões. Só funciona a expertise básica da aprovação&acompanhamento
de projetos, que roda praticamente de forma quase mecânica, sob as rédeas do
MDIC. E tudo poderia ser diferente. Como? Bem, poderíamos imaginar que:
1. O
chão amazônico poderia estar recebendo benefícios efetivos com os recursos
gerados pelo Projeto ZFM com a expansão e a melhoria de infraestrutura
econômica, com a formação de capital humano técnico e especializado, com o
estabelecimento de produção de pequena monta e com tecnologia universal. Mas
não: os recursos financeiros se foram; e há uma montanha de processos em tomada
de contas especiais;
2. O
sistema local de inovação poderia ter sido potencializado caso os recursos da
Lei de Informática tivessem sido depositados numa conta local para
investimentos no desenvolvimento de pesquisas&negócios lastreados por
amazonidades. Mas não: parte dos recursos é retida em nível nacional e não se
percebe avanços no mercado em nível de redução de custos, aumento do
faturamento, melhorias&inovações de processo&produto transmutando os
PPBs. Um sonho perdido!?
3. A
bioindústria poderia estar sendo um acaso amazônico, engatinhando para um
futuro brilhante. Mas não: qual foi o produto que o CBA conseguiu contribuir
com investigações para fazer entrar uma amazonidade no mercado? Sabe-se da
redução drástica de seus quadros. Quais são suas parcerias estratégicas
consolidadas com institutos&laboratórios de pesquisas? Qual o estado de seu
ativo patrimonial, especialmente seus equipamentos&ferramentas de descobertas&conquistas
tecnológicas&inovativas? Não se tem notícias.
4. A
TSA poderia constituir uma fonte de arrecadação segura&estável. Superado o
questionamento do caráter do preço público, poderia ter sido dimensionada em
bases jurídicas duradouras. A base política local poderia ter argumentado a
manutenção da autonomia financeira da Suframa frente ao estatuto da conta
única. Mas não: além de ter caído a ficha de que os recursos financeiros
gerados com o Projeto ZFM não mais fazem parte de contingenciamentos, as taxas
arrecadadas estão ficando sob o crivo da espada da justiça. O Estado do
Amazonas talvez seja o maior interessado em cair de vez a obrigatoriedade da
TSA, isto é, dela ser extinta, na esteira da extinção da Suframa, pois
ampliariam suas margens de manobras em termos de políticas públicas com o uso
do ICMS.
5. A
Suframa poderia estar institucionalmente forte, revisando permanentemente seu
conteúdo estratégico, avaliando ameaças&oportunidades, revisando,
redimensionado, melhorando e inovando seus procedimentos. Mas não: seu plano de
diretrizes&políticas restou num quadro amorfo pendurado em suas salas,
denunciando a perda da dinâmica histórica com os passivos, as encrencas e as
indecisões. Agência Executiva? Não sei. De nada adiantará uma nova natureza
jurídica, sem condições para operar a ópera para além da ZFM. Talvez sirva
apenas para repassar atribuições&competências para outrem, como é o caso do
cenário pessimista. Dizem que a nomeação de uma jovem&bonita política local
ainda está em jogo. Que ela tenha boa sorte!
Penso que a bola da vez será a RFB. E
seria um ganho estupendo para o Amazonas. A RFB poderia constituir um
Departamento da ZFM, levando para as suas bases as unidades administrativas e
os sistemas operacionais essenciais para o funcionamento do Projeto ZFM. A sede da Suframa viraria um museu
industrial. Os servidores seriam distribuídos para órgãos públicos federal. O
Decreto-Lei n.º 288/1967 seria redimensionado. E todos viveriam felizes para
sempre!
A incorporação das vantagens comparativas
junto ao sistema tributário nacional geraria um gap tributário perene. Nos anos 2080, pediríamos nova prorrogação
do prazo de vigência do Projeto ZFM, com base no argumento de que ainda não
terá sido possível construir uma infraestrutura que viabilize economicamente a
produção industrial manauara por conta das longas viagens que os insumos&produtos
realizam. Estaria confirmada a perspectiva de continuarmos como uma ponta de
lança para a expansão do capital articulador da civilização ocidental, fazendo
jus às palavras do navegante, da época dos descobrimentos, à serviços das
Coroas espanholas&portuguesas, Américo Vespúcio à Lorenzo D’Medici, em
carta de 1503: “essas novas regiões que descobrimos e exploramos ... podemos
efetivamente chamá-las de Novo Mundo”. E todos viveriam felizes por mais 500
anos! Agora não mais dominado pela posse do território, mas pela posse da
tecnologia.
Mas, afinal, quais são as oportunidades,
num cenário otimista? O que poderia ser feito então para resgatar uma presença
mínima da Suframa junto à nossa responsabilidade histórica com o mito do
desenvolvimento?
a) Quanto
ao programa de interiorização: elaboração de planos de trabalho para aplicação
com recursos financeiros não-reembolsáveis pelos especialistas da área de
estudos econômicos e empresariais, para apresentação aos políticos correrem em
busca de emendas parlamentares, aproveitando a expertise da Suframa com a
ferramenta convênios. Ponto! Nessa inflexão, que sai da inércia para a proatividade,
resgato reflexão contida na dissertação deste servidor intitulada “Projeto ZFM:
vetor de interiorização ampliado!”, qual seja, de transferir a posse dos
projetos de produção financiados em parceria com o Pronaf para as associações&cooperativas,
via autorização parlamento municipal, numa espécie da miniprograma de
privatização. Mas para essa estratégia dar certo, precisaríamos entrar no
terreno profícuo da política maiúscula. Essa perspectiva não é trivial muito
menos fácil, mas possível desde que tenhamos boa vontade e vontade política.
b) Quanto
aos investimentos de P+D decorrente da Lei de Informática: negociar com o
capital incentivado a possibilidade da redução da alíquota de 5% do faturamento
para algo como 3% ou mesmo 1,5%. Mas dedicado a um Fundo Local, longe da
ingerência do Planalto Central e das instituições do Sistema Nacional de
Inovação. Aqui, precisaríamos de boa vontade e vontade política de ambos os
atores da Hélice Tríplice, isto é, governo&academia&indústria, para
gerir com eficácia&eficiência esse Fundo. Ponto! Para esse desiderato
resgato a ideia do Conselho Político de Gestão Estratégica para o
Desenvolvimento Industrial&Tecnológico vertido às amazonidades, visando o
equilíbrio da oferta versus demanda tecnológica da bioindústria local que deve
emergir&prosperar, enquanto objetiva para o autodesenvolvimento. Essa ideia
está contida no “Pequeno Ensaio em prol da Construção de um Capitalismo
Amazônico a partir de Manaus”, de autoria deste servidor.
c) Quanto
ao CBA, este deve passar para a esfera do Sistema Estadual de Inovação, sob a
gerência do Estado do Amazonas e vinculado à Universidade do Estado do
Amazonas. Ponto! Haveria uma concorrência sadia entre o Sistema Nacional e o
Estadual de Inovação, com dois pares de agentes atuando em prol do
autodesenvolvimento: [(Ufam+Inpa)&(UEA+CBA)]. Nada de Inmetro ou quaisquer
outras instituições não locais para geri-lo.
d) Quanto
a TSA, esta deve se ajustar a base de cálculo à condição de sua natureza
tributária, isto é, não deve ser a mesma de tributos, que incide sobre valores
das transações comerciais de importação e de internamento. A incidência deve
ser estrita ao serviço prestado, ainda que metrificado pelo volume da carga,
por exemplo. Certamente a arrecadação cairá, mas não será mais questionada em
juízo. Ponto! Aqui exigiria um novo ponto de inflexão institucional, quando a
Suframa deixaria de ofertar, passando a demandar recursos para financiar seus
objetivos estratégicos. Novamente seria fundamental uma boa vontade e vontade
política heroica&hercúlea.
e) Quanto
à Suframa em si mesma, além de um plano de carreira competitivo, precisaria de
equipe dirigente profissional&séria. Ponto! Virou moda na Suframa a gestão
com não titulares, isto é, com substitutos&substituições. Isso gera
insegurança& displicência. Precisaríamos transcender as eras das festas e
das falácias. Pontuar avanços&retrocessos, transformando ameaças em
oportunidade. Caberia uma redução temporária da estrutura organizacional, superambiciosa,
até que novas condições objetivas se interponham para que uma atuação
institucional estratégica pudesse ser possível.
Hoje, dia 10.7.2015, faz 31 dias que sai
da greve. E os meninos&meninos, apesar das baixas no front, continuam firmes&fortes. Admiro a posição dessa
juventude, que desejo tenha uma atitude pura&reservada à perspectiva da boa&justa
remuneração. Todavia, sigo não acreditando na greve enquanto solução
estrutural. Além da aprovação do plano de carreira, que beneficiará os
profissionais e suas famílias, precisamos resgatar ou reconstituir as condições
objetivas institucionais vertidas ao autodesenvolvimento minimamente autônomo e
interdependente, para que a sociedade amazonense/amazônica possa superar a
carência de uma solução definitiva, que traga liberdade política e
independência econômica para o chão amazônico, desde a contribuição histórica
da Suframa para além do Projeto ZFM.
Nesse período, entre 9.6.2105 e 10.7.2015,
a organização finalmente decidiu minha nova lotação: no setor de arrecadação.
Portanto, mantendo a opção de me afastar das discussões estratégicas e de
atividades intelectuais prospectivas, progressistas e propositivas. É como
gostaria de finalizar minha carreira, sem necessariamente postular por cargos,
porém, não me eximindo de responsabilidades diretivas. Apesar de ter aprendido
bastante na Corregedoria, onde fiz bons amigos, julgo que minha experiência&conhecimento
deveria ser aproveitados em assuntos estratégicos. Afinal, sinto-me corresponsável
pela confortável bolha estratégica em que se transformaram os planos
institucionais, especialmente a idealização das políticas vertidas à inovação&empreendedorismo.
Foi com esse intuito que apostei minhas fichas com a
formação&especialização profissional levada a cabo.
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