Síntese-reprodução, realizada em 2006, por Antônio
José Botelho, da BRAGAVADH GITA, traduzida sob a responsabilidade de Roberto de
Andrade Martins.
Nota: Utilizou- se Cristiano Bezerra como fonte para esclarecer termos e conceitos. Quando
esta não for, outra estará explícita.
Do Sofrimento de Arjuna[1]
Dhritarashtra[2] disse:
-
O que meus filhos e os filhos
de Pandu[3]
fizeram, reunidos e ávidos pela batalha, no campo de cumprimento do dever, o
campo dos Kurus[4]?
Sañjaya[5] disse:
-
Então, vendo o exército dos Pandavas[6]
prontos para a batalha, o rei Duryodhana[7]
se aproximou de seu mestre e disse essas palavras:
-
Veja, ó Mestre, este grande
exército dos filhos de Pandu, organizados pelo filho de Drupada[8],
seu sábio discípulo.
-
Aqui estão heróis, grandes
arqueiros, que se igualam na batalha a Bhima[9],
Arjuna...
-
............................
-
Vendo os homens de Dhritarashtra
preparados para a batalha, e quando as armas estavam preparadas para a ação,
então Arjuna, que tinha a bandeira de Hanuman em seu carro,
ergueu o seu arco.
-
Ó rei, ele disse essas palavras
a Hrishikesha[10]
[Krishna]: Leve minha carruagem para um lugar entre os dois exércitos, ó
Acyuta.
-
Para que eu possa ver essas
pessoas que estão ansiosas para lutar, e com quem eu vou lutar nessa guerra que
está para começar.
-
Eu quero olhar para aqueles que
estão reunidos aqui, prontos para lutar, e que querem realizar pela guerra
aquilo que deseja o filho perverso de Dhritarashtra.
Sañjaya disse:
-
Ó melhor dos Bharatas[11]
[Dhritarashtra], diante desse pedido de Gudakesha[12]
[Arjuna], Hrishikesha [Krishna] levou a melhor das
carruagens para o meio dos dois exércitos.
-
...............................
-
Então Partha[13]
[Arjuna] viu os tios, avós, mestres, tios maternos, irmãos, seus filhos
e netos. E também companheiros,
-
e sogros e amigos nos dois
exércitos. Quando o filho de Kunti [14][Arjuna]
viu todos esses parentes assim dispostos, ele foi tomado por uma grande pena e
disse, com tristeza:
-
Ó Krishna, vendo esses
parentes e amigos que estão reunidos aqui com a intenção de lutar, meus membros
se tornam fracos e minha boca fica completamente seca.
-
Meu corpo treme, meus cabelos
ficam de pé. Gandiva [o arco de Arjuna] escorrega de minha mão, e
minha pele queima.
-
Além disso, eu não consigo
ficar parado, minha mente parece girar. E eu vejo presságios ruins.
-
Eu não vejo nenhum bem que
possa vir de matar meu próprio povo na batalha. Eu não desejo a vitória, nem um
reinado, nem prazeres.
-
Que necessidade eu tenho de um
reino, de prazeres e da própria vida?
-
Eu desejaria um reino e
prazeres por causa daqueles que estão aqui na batalha, renunciando a suas vidas
e suas riquezas.
-
Mestres, tios, filhos; tios
maternos, sogros, netos, genros e outros parentes.
-
Eu não quero matá-los, mesmo se
eles me matem, mesmo que para conseguir como reino os três mundos, e muito
menos para conseguir esta terra.
-
Que felicidade poderíamos ter
matando esses filhos de Dhritarashtra? Apenas o pecado virá a nós,
matando esses malignos.
-
Portanto, não é correto para
nós matar nossos parentes, os filhos de Dhritarashtra. Realmente, como
poderíamos ser felizes matando nossos parentes?
-
........................
Sañjaya disse:
-
Tendo dito isso no campo de
batalha, Arjuna, com sua mente dominada pelo sofrimento, sentou-se na carruagem
no meio do campo de batalha, atirando para o lado seu arco e as flechas.
Do Conhecimento
-
..............................
Arjuna disse:
-
..............................
-
Meu ser está dominado pela
fraqueza, por causa do sentimento de piedade, e minha mente está confusa a
respeito do meu dever. Eu lhe suplico, diga-me com certeza o que é melhor. Eu
sou seu discípulo. Instrua-me, a mim que me refugio em você.
-
.............................
O Senhor Divino
disse:
-
Você lamenta por aqueles pelos
quais você não deveria lamentar, embora você fale sobre sabedoria. Os sábios
não lamentam por aqueles que morreram ou pelos que vivem.
-
Certamente não houve um tempo
em que eu surgi, nem você, nem esses poderosos. E certamente não haverá um
tempo futuro em que nós todos cessemos de existir.
-
.............................
-
Realmente, a pessoa que não é
perturbada por isso, a pessoa excelente que permanece igual no prazer e na dor,
esta se torna preparada para a imortalidade.
-
Nada surge daquilo que não
existe. Aquilo que existe não cessa de existir. Aqueles que veem a verdade
perceberam a natureza desses dois.
-
Saiba que aquilo que permeia
tudo é indestrutível. Ninguém pode produzir a destruição desse ser imutável.
-
Diz-se que esses corpos
destrutíveis pertencem àquilo que está incorporado, que é eterno,
indestrutível, incompreensível. Portanto, lute.
-
Aquele que pensa que isso mata,
e aquele que pensa que isso é morto, ambos desconhecem a verdade. ele nem mata
nem é morto.
-
Isso nunca nasce, nem morre
jamais, nem começou a existir ou cessará de existir. Isso não nasceu, é eterno,
permanente, primordial. Ele não é morto quando o corpo é morto.
-
Aquele que sabe que isso é
indestrutível e eterno, sem nascimento e permanente, quem tal pessoa poderia
matar, ou quem ele poderia fazer morrer?
-
..............................
-
Diz-se que isso é não
manifesto, inconcebível, imutável. Portanto, conhecendo-o assim você não deve
lamentar.
-
Mesmo se você pensar que isso
nasce perpetuamente e morre perpetuamente, mesmo então, você não deve
afligir-se assim.
-
Pois a morte é certa para tudo
o que nasce, e o nascimento é certo para tudo o que morre. Portanto, quanto ao
inevitável, você não deve afligir-se.
-
Os seres no início são
não-manifestos, manifestos no meio, e não-manifestos novamente no fim.
-
................................
-
O incorporado de todos é eterno
e jamais pode ser morto. Portanto, você não deve lamentar por nenhuma criatura.
-
Além disso, considerando o seu
próprio dever, você não deve hesitar, pois não existe nada melhor para um
guerreiro do que uma batalha prescrita pelo dever.
-
.................................
-
Tudo isso lhe foi descrito pela
sabedoria do conhecimento analítico. Ouça agora a sabedoria do Yoga. Se
você a aceitar, você se libertará do cativeiro da ação.
-
Nesse caminho, nenhum esforço é
perdido, nem ocorrem danos. Mesmo um pouco dessa instrução liberta do grande
perigo.
-
Nisto existe uma convicção
única, decisiva. Mas o intelecto dos indecisos possui ramificações inumeráveis.
-
As pessoas sem discernimento,
que se prendem às palavras dos Vedas[15]
e declaram que não existe mais nada, sua natureza é o desejo e a vontade de
atingir o céu. Elas repetem essas palavras floridas que resultam em
renascimento e fazem rituais que produzem frutos, procurando a satisfação e o
poder.
-
A concentração fixa do
intelecto e o SAMADHI[16]
não se estabelecem naqueles que se dedicam à satisfação e ao poder, e cujas
mentes são levadas por essas palavras [dos Vedas].
-
O tema do Veda é a ação dos
três poderes. Mas você torne-se livre desses três poderes, livre das
dualidades, permanecendo estável na qualidade de SATTVA[17],
sem se importar com adquirir e preservar, estabelecido no EU [ÃTMÃ[18]].
-
Para um BRÃHMANA[19]
que atingiu o conhecimento, os Vedas são tão úteis quanto um poço em um lugar
totalmente inundado.
-
Você tem o direito à ação, mas
nunca aos seus frutos. Não permita que os frutos da ação sejam o motivo. Nem
permita nenhuma tendência à inação.
-
Firme no Yoga, realize
suas obras, abandonando todos os apegos, tornando-se igual no sucesso e no
fracasso. Pois a igualdade da mente é chamada de Yoga.
-
A ação é muito inferior ao Yoga
da sabedoria. Refugie-se na sabedoria. Os que buscam os frutos são dignos de
pena.
-
Aquele que unificou sua
inteligência rejeita aqui tanto as coisas boas quanto as más. Portanto,
devote-se a este Yoga. Yoga é a habilidade na ação.
-
Os sábios que unificam sua
inteligência, renunciando aos frutos de suas ações se libertam da prisão do
nascimento e atingem um estado sem sofrimento.
-
Quando seu intelecto
ultrapassar as ilusões turvas, então você atingirá a indiferença em relação
àquilo que foi ouvido e ao que ainda será ouvido.
-
Quando seu intelecto, que está
confuso por aquilo que foi dito, permanecer imóvel e estável em SAMADHI, então
você atingirá o Yoga.
Arjuna disse:
-
Como é uma pessoa de sabedoria
firme, no estado de SAMADHI? Como fala uma pessoa que tem inteligência firme?
Como ela se assenta? Como ela anda?
O Senhor
abençoado disse:
-
Quando uma pessoa renuncia
completamente a todos os desejos de sua mente, e quando ele permanece
satisfeito apenas no Eu, pelo Eu, então se diz que ele tem uma sabedoria
estável.
-
Aquele
cuja mente não se perturba no meio de sofrimentos e que está livre do desejo
ansioso pelos prazeres, aquele que foi além da paixão, do medo e da raiva, ele
é chamado um sábio de inteligência firme.
-
Aquele que não se prende a nada
em nenhum lugar, que nem se alegra ao receber algo de bom, nem se perturba
quando recebe algo de mau, tem a sabedoria firmemente
estabelecida.
-
Aquele que retrai seus sentidos
dos objetos dos sentidos completamente, sua sabedoria está firmemente estabelecida.
-
Os
objetos dos sentidos se afastam do incorporado que se abstém de se alimentar
deles, mas o seu sabor permanece. Mesmo o sabor se afasta quando se atinge
aquilo que é supremo.
-
Mesmo quando uma pessoa se
esforça e tem discernimento, os sentidos impetuosos arrastam sua mente.
-
Tendo controlado todos eles,
ele deve permanecer firmemente unido a mim como o supremo; pois a sabedoria
daquele cujos sentidos estão sob controle se torna firma.
-
Concentrando-se nos objetos dos
sentidos, ocorre um aprisionamento a eles. Do aprisionamento surge o desejo, e
do desejo vem a raiva.
-
Da raiva surge a ilusão; da
ilusão, falha da memória; e da falha de memória, a perda da compreensão. Pela
perda de compreensão, ele perece.
-
Mas aquele que se autocontrola,
que se move entre os objetos dos sentidos sob controle e livre da atração e
aversão, ele atinge a tranquilidade.
-
Quando é atingida essa tranquilidade,
todos os sofrimentos chegam ao fim; para aquele que tem a mente tranquila, a sabedoria
certamente se estabelece logo.
-
Para aquele que não está
unificado, não pode haver sabedoria;
e não pode haver meditação para aquele que não está unificado. E para aquele
que não tem o poder de meditação, não existe paz. E para quem não tem paz, como
pode haver felicidade?
-
Quando a mente corre atrás dos
sentidos que vagueiam, ela carrega para longe a sabedoria...
-
Portanto, a sabedoria
se estabelece firmemente naquele cujos sentidos são completamente retraídos dos
seus objetos.
-
..........................
-
Aquele que rejeita todos os
desejos e age livre do sentido de posse, sem um ego, ele atinge a paz
-
Este é o estado de quem está
estabelecido em Brahman[20].
Depois de atingi-lo, ninguém se ilude mais. Atinge-se a unidade com Brahman,
mantendo esse estado no final da vida.
Da Ação
-
............
-
Diga-me com certeza aquilo
através do qual eu posso atingir o bem
supremo.
-
............
-
Uma pessoa não atinge a
libertação da ação deixando de agir,
e ela não atinge sua perfeição meramente pela renúncia.
-
Pois ninguém pode permanecer
sequer um momento sem agir; todos agem compulsivamente pelos poderes que nascem
da natureza.
-
Aquele que restringe seus
órgãos de ação, mas continua em sua mente a se alimentar dos objetos dos
sentidos, esse, cuja mente está iludida, é chamado de hipócrita.
-
Mas aquele que controla os
sentidos pela mente, e sem estar prisioneiro se empenha no caminho das obras,
esse é o superior.
-
Realize o trabalho que lhe é destinado, pois a ação é superior à
inação. A própria manutenção do corpo não seria
possível sem a ação.
-
A não ser que a pessoa realize as ações como sacrifício sagrado,
elas o aprisionam. Portanto, realize suas ações
como um sacrifício, libertando-se de todo aprisionamento.
-
..............
-
Aquele que não ajuda a girar a
roda que foi assim colocada em movimento, possui uma vida de pecado e concede
prazeres a si próprio, vive em vão.
-
Mas o homem que se alegra
apenas no EU e que se satisfaz com o Eu, que se contenta apenas com o EU – para
ele, não existe nenhuma ação que ele precise fazer.
-
De modo semelhante, neste mundo
ele não tem nenhum interesse pelo resultado das ações que ele fez, nem se
preocupa com aquelas que seriam ganhas por aquilo que ele não fez. Ele não
depende de nenhum ser para nenhum propósito.
-
Portanto, permanecendo livre, sempre realize a ação que deve ser
feita, pois uma pessoa atinge o mais elevado realizando seu dever sem se
prender à ação.
-
Você também deve realizar seu
dever para evitar que o mundo se extravie.
-
Seja o que for que um homem
superior faça, outros farão também o mesmo. Seja o que for que ele estabeleça
como padrão, os outros seguirão.
-
Para mim, não existe nenhum
dever que eu deva realizar nesse mundo, não há nada para realizar ou que não
tenha sido obtido. No entanto eu permaneço em atividade.
-
Porque se eu não continuasse em
ação constante, os homens seguiriam meu caminho de muitos modos.
-
Se eu cessasse de realizar
ações, estes mundos se arruinariam, e eu me tornaria o criador da confusão
[mistura de castas] e destruiria os seres.
-
Assim como os ignorantes agem
aprisionados a suas obras, da mesma forma os sábios também devem agir, sem
aprisionamento, pelo desejo de manter a ordem do mundo.
-
.............
-
Todas as ações são feitas pelos
poderes da natureza, mas aquele que está iludido pelo ego pensa: “Sou eu quem
faz”.
-
Porém, aquele que conhece a
verdade sobre a diferença entre os poderes e as ações não fica preso, pois ele
pensa: “Os poderes agem sobre os poderes.”
-
Aqueles que são enganados pelos
poderes da natureza se prendem às obras que eles produzem. Mas aquele que sabe
tudo não deve perturbar as mentes ignorantes, que apenas conhecem uma parte.
-
Renunciando a mim todas as
ações e com a consciência fixa no Eu supremo, livre do desejo e do ego, lute, livre da febre mental.
-
Aqueles que, cheios de fé e livres de sofismas,
seguem constantemente esse meu ensinamento, eles também se libertam das ações.
-
Mas aqueles que desprezam meu
ensinamento e não o seguem, saiba que eles são cegos, destituídos de sabedoria,
e que estão perdidos e arruinados.
-
Mesmo um sábio age de acordo
com sua própria natureza. Os seres seguem sua natureza. O que poderia ser
obtido pela repressão?
-
A atração e a repulsa se fixam nos objetos dos sentidos. Não se deve
cair sob o domínio desses dois, porque eles são seus adversários.
-
O seu próprio dever, embora
defeituoso, é superior ao dever de um outro, mesmo bem realizado. É melhor morrer na realização de seu
próprio dever. Seguir o dever de um outro é perigoso.
Da
Sabedoria
-
...........
-
Aquele que conhece verdadeiramente o meu divino nascimento e minhas
ações, não renasce novamente após abandonar o corpo.
Ele vem a mim.
-
Livre das paixões, do medo e da raiva,
aqueles que se absorveram em mim, que se refugiaram em mim, purificados pela austeridade da sabedoria,
atingiram meu estado de existência.
-
.......
-
Os que desejam os frutos de
suas ações oferecem sacrifícios às divindades. Neste mundo dos homens, o
resultado das ações vem rapidamente.
-
.........
-
As ações não me mancham; eu não
anseio pelos seus frutos. Aquele que me conhece assim não é aprisionado pelas
ações.
-
Sabendo isso, os homens antigos
que procuravam a libertação também realizaram ações. Portanto, realize você também sua ação como foi
realizado antes pelos antigos.
-
Mesmo os sábios se confundem
sobre o que é ação e o que é inação. Eu lhe direi o que é ação, e com essa sabedoria você se libertará do
mal.
-
Existe algo que deve ser
conhecido sobre a ação, e também
algo que deve ser conhecido sobre a ação
errônea, e algo que deve ser conhecido sobre a inação. É difícil
compreender a natureza da ação.
-
Aquele que vê a inação na ação, e a ação na inação é um sábio entre os
homens. Ele é um yogue e realizou tudo.
-
Uma pessoa livre de desejos, cujas ações foram queimadas no fogo da
sabedoria, é chamado de sábio pelos que sabem.
-
Tendo abandonado a fixação aos
frutos da ação, permanecendo sempre contente e não dependendo de nada, ele não
faz nada, embora esteja sempre empenhado na ação.
-
Aquele que está livre de desejos, cuja mente e sentidos
estão sob controle, que renunciou a todas as posses, e que realiza as ações
apenas pelo corpo, não comete erros.
-
Satisfazendo-se com aquilo que
lhe vem sem ser desejado, aquele que não é afetado pelos pares de opostos e que
está livre da inveja, que permanece
o mesmo no sucesso e no fracasso, não é
aprisionado pelo KARMA.
-
Todas as ações se dissolvem
completamente para uma pessoa que está livre de desejos, cuja mente está fixada
na sabedoria, e que realiza as ações como um sacrifício.
-
.........
-
A sabedoria é considerada superior a qualquer sacrifício material,
pois o coroamento de todas as obras, sem exceção, é a sabedoria.
-
Aprenda isso por reverência humilde, por pesquisa e por serviço. Os videntes que atingiram a sabedoria lhe transmitirão a
sabedoria.
-
Depois de conhecer isso, você não será novamente iludido. Com
este conhecimento você verá todos os seres, sem exceção, dentro do Eu, e também
em mim.
-
.........
-
Não há nada aqui comparável à
pureza da sabedoria. Aquele que se
aperfeiçoou pelo Yoga encontra aquilo por si mesmo, depois de um tempo,
dentro de si.
-
O homem que tem fé, que se
dedica e que controlou seus sentidos atinge a sabedoria e, tendo obtido a sabedoria, atinge rapidamente a paz suprema.
-
Mas aquele que é ignorante e
que não tem fé, que tem uma mente que duvida, perece. Para a mente que duvida,
não existe felicidade nem neste mundo nem no outro.
-
As ações não prendem aquele que renunciou às ações pelo Yoga, que destruiu todas as dúvidas pela sabedoria e que não se distrai.
-
Portanto, tendo cortado com a
espada da sabedoria esta dúvida em seu coração nascida da ignorância, recorra ao Yoga e erga-se.
Da
Renúncia à Ação
-
Você elogiou a renúncia às
ações e também as ações. Diga-me com certeza qual dos dois é o melhor Yoga.
-
Tanto a renúncia das ações quanto o Yoga das ações levam à libertação. Dentre os dois, Karma Yoga é superior à renúncia às
ações.
-
Aquele que nem odeia nem deseja deve ser conhecido como aquele que
tem um espírito de renúncia. Livre das dualidades, ele se liberta
facilmente do aprisionamento.
-
.......
-
Mas a renúncia é difícil de
atingir pelos yogues. O pensador que pratica Yoga atinge Brahman
rapidamente.
-
Aquele que dominou o Yoga, que se
purificou, que se controla e que conquistou os sentidos, cujo Eu se torna o EU de todos os seres – ele realmente não se mancha mesmo enquanto realiza ações.
-
.........
-
Aquele que age tendo desistido do apego,
dedicando suas ações a Brahman, ele não
é manchado pelo pecado, assim como uma folha de lótus não é molhada pela
água.
-
..........
-
Aquele que se unificou atinge a
paz que vem da firmeza, abandonando a ligação aos frutos das obras. Mas aquele
que não se unificou é impelido pelo desejo e se liga ao fruto da ação, e assim
fica preso.
-
.........
-
Aquele que permeia tudo não
participa do pecado ou do mérito de ninguém. A sabedoria está envolta pela
ignorância. Por isso as criaturas vivas se iludem.
-
Mas para aqueles em quem a ignorância é destruída pelo conhecimento
do EU, para eles a sabedoria ilumina a suprema realidade, como um Sol.
-
.............
-
O renascimento é superado mesmo aqui por aqueles cuja mente se
estabelece firmemente na igualdade. Brahman é o mesmo em tudo, e
desprovido de defeitos. Portanto, todos estão estabelecidos em Brahman.
-
Um conhecedor de Brahman,
que está estabelecido em Brahman, que tem seu intelecto firme e não é
iludido, ele não se alegra ao obter o que é agradável nem se aborrece ao obter
o que é desagradável.
-
Com seu coração desligado dos objetos externos, ele obtém a
felicidade que está no Eu. Com absorvido em Brahman,
com seu EU unido ele adquire uma felicidade que não se desvanece.
-
Todos os prazeres que nascem do contato com objetos são apenas fonte
de sofrimento, eles possuem um início e um fim.
Nenhum sábio se delicia com eles.
-
Aquele que é capaz de resistir ao impulso que vem do desejo e da
raiva, aqui, antes de abandonar o seu corpo, ele conseguiu a união, ele é uma
pessoa feliz.
-
Aquele que encontra sua
felicidade interna, sua atividade interna, e que tem sua luz interna, esse
yogue se torna Brahman e atinge a libertação em Brahman.
-
Os videntes cujos pecados foram
destruídos, que se libertaram das dualidades, que se dedicam à autorrealização
e que se dedicam a fazer o bem a todas
as criaturas, atingem a libertação em Brahman.
-
Os que controlam seu órgão
interno, que se libertaram do desejo e da raiva e que conhecem o EU, atingem a libertação
em Brahman rapidamente.
-
Mantendo fora todos os objetos externos,
fixando a visão entre as sobrancelhas,
igualando a inspiração e a expiração que
se movem pelas narinas, o sábio que
obteve controle sobre os sentidos, a mente e o intelecto, que se concentra
na libertação, que abandonou o desejo, o medo e a raiva, ele que sempre
se mantém assim é certamente
libertado.
-
E ele atinge a paz tendo
conhecido a mim, que sou o grande Senhor de todos os mundos, o amigo de todos
os seres, como aquele que desfruta os sacrifícios e as austeridades.
Da
Meditação
-
Aquele que realiza seu dever,
sem procurar o fruto de sua ação, ele é o renunciante, ele é o yogue...
-
A renúncia é o mesmo que Yoga. Porque ninguém se torna um
yogue sem ter renunciado aos resultados da ação.
-
Para o sábio que deseja atingir
o Yoga, a ação é considerada como meio. Quando ele atingi o Yoga, a
cessação é considerada como um meio.
-
Diz-se que uma pessoa atingiu o Yoga quando não se prende às
ações ou aos objetos dos sentidos e desistiu de todos os objetivos.
-
......
-
Para aquele que conquistou seu Eu pelo Eu, seu Eu é um amigo, mas
para aquele que não conquistou seu Eu, seu Eu age como um inimigo.
-
Para aquele que conquistou seu Eu e atingiu a tranquilidade do
autodomínio, seu supremo Eu se manifesta....
-
Aquele cuja mente se satisfaz com a sabedoria e com a realização,
que é imutável e que controla seus sentidos, para quem um torrão de terra, uma
pedra e um pedaço de ouro são o mesmo, este yogue atingiu a unificação.
-
..........
-
O yogue deve concentrar-se constantemente no Eu,
permanecendo em um lugar isolado, solitário, com a mente controlada, livre de desejos e livre de sentimento de posse.
-
Ele deve colocar seu assento
firmemente em um lugar puro, nem muito elevado nem muito baixo, coberto de
grama, uma pele de cervo e tecido, um sobre o outro.
-
Assentando-se sobre esse
assento, ele deve praticar o yoga para purificar-se, e concentrar sua mente em um ponto, e mantendo as atividades da mente
e dos sentidos sob controle.
-
Mantendo o corpo, a cabeça e o pescoço eretos e parados, olhando
fixamente para a ponta do próprio nariz, sem olhar em volta.
-
Com o Eu sem agitação, livre do
medo, ele deve permanecer firme no voto de um estudante religioso, sentado com
sua mente fixa em mim, controlando-a pela concentração,
tendo a mim como última meta.
-
Dominando-se assim, o yogue que
controlou sua mente atinge a paz que culmina com a libertação suprema que
reside em mim.
-
...........
-
Quando a mente disciplinada se estabeleceu apenas no Eu, liberta de todos os
desejos, então se diz que ela está unida.
-
............
-
Quando a mente, controlada pela
prática do Yoga, se retrai, e quando por ver apenas o Eu, permanece contente
com o Eu sozinho;
-
Quando se tem a vivência
daquela felicidade absoluta que pode ser intuída pelo intelecto e que está além
dos sentidos e, estando estabelecido nisso, essa pessoa não se afasta mais da
realidade.
-
E tendo obtido isso, não se
pensa na aquisição de qualquer outra coisa superior, e estando estabelecido
nisso, não se perturba mesmo pelo maior sofrimento.
-
Deve-se saber que esse
rompimento do contato com o sofrimento é conhecido como sabedoria do Yoga. Esse
Yoga deve ser praticado com determinação, sem desânimo.
-
............
-
A felicidade suprema vem apenas
ao yogue cuja mente se tornou tranquila, cuja paixão foi acalmada,
que se identificou com Brahman e que está livre de manchas.
-
Concentrando-se assim
constantemente a sua mente, o yogue sem máculas atinge a felicidade
absoluta do contato com Brahman.
-
Aquele que tem seu Eu unificado pelo Yoga vê a
mesma coisa em todos os lugares. Ele vê o Eu residindo em todos os seres, e
todos os seres no Eu.
-
.............
-
Considera-se como sendo o
melhor yogue aquele que vê o seu Eu em todos os seres, e que considera as
dores e os prazeres dos outros como iguais.
-
Você falou sobre esse Yoga,
mas eu não percebo sua possibilidade, nem sua estabilidade, por causa da falta
de repouso.
-
Porque a mente é muito instável, turbulenta, forte e obstinada. Eu
penso que ela é difícil de controlar ...
-
Sem dívida, a mente é inquieta e difícil de controlar. Porém, ela
pode ser controlada, pela perseverança na prática e pelo desprendimento.
-
O Yoga é difícil de obter para aquele que não possui autocontrole. No entanto, ...
-
............
-
... o yogue que se esforça com perseverança, purificando-se das impurezas e
aperfeiçoando-se através de muitas vidas, atinge a perfeição e o objetivo mais
elevado.
-
O yogue é superior ao asceta[21];
ele é considerado superior até do que os homens de conhecimento, superior aos
homens que realizam rituais. Portanto, torne-se um yogue.
-
De todos os yogues, aquele que
me cultua, com fé e com sua mente fixa no Eu, ele é considerado o melhor dos
yogues.
Do
Conhecimento com Realização
-
.........
-
Minha natureza se divide
em oito partes: terra, água, fogo, ar,
éter, mente, intelecto e ego.
-
Esta é minha natureza inferior.
Conheça a minha outra natureza superior, que é isto pelo qual todos os
seres vivos dessa criação são
sustentados.
-
Saiba que essas duas são a
fonte de nascimento de todos os seres. Eu sou a origem e também a destruição de todo o universo.
-
........
-
Eu sou o sabor na água, eu sou
a luz da Lua e do Sol. Eu sou a sílaba sagrada em todos os Vedas; eu sou a
vibração no éter e a virilidade nos homens.
-
Eu sou a fragrância original da
terra e o brilho no fogo. Eu sou a vida em todos os seres. Eu sou a austeridade
nos ascetas.
-
Saiba que eu sou a semente
eterna de todos os seres. Eu sou o intelecto do inteligente, sou o esplendor do
esplêndido.
-
Sou a força do forte que é
desprovido de apego e de paixão. Nos seres eu sou o desejo que não se opõe ao
dever.
-
Todas as coisas, sejam elas
constituídas pela luz, pela violência ou pelas trevas, saiba que elas todas brotam de mim.
-
Todo este universo, iludido pela magia dos três poderes da
natureza não me reconhece, a mim que sou o
supremo e que sou imperecível.
-
Esta minha divina magia dos poderes é difícil de ser
superada. Apenas os que se refugiam em mim atravessam essa magia.
-
Os tolos malfeitores, baixos na
escala humana, cujas mentes são privadas da sabedoria pela magia, e que
percorrem caminhos demoníacos, não se refugiam em mim.
-
Os virtuosos que me cultuam são
de quatro tipos: os que sofrem, os que buscam o conhecimento, os que procuram
riquezas, e o homem sábio.
-
Deles, o sábio, que está sempre unido,
concentrando em devoção, é o melhor. Pois que sou muito valioso para ele, e ele
me é muito caro.
-
...........
-
Mas aqueles cujo conhecimento é
distorcido pelos desejos, recorrem a outras divindades, seguindo as suas
regras, guiados por sua própria natureza.
-
Seja qual for a forma que um
devoto queira cultuar com fé, eu torno sua fé forte e firma.
-
Imbuído por aquela fé, ele se
une àquela forma, e obtém os resultados dos seus desejos, que são concedidos
apenas por mim.
-
Mas os frutos obtidos por essas
pessoas de mentes pequenas são limitados. Os que cultuam as divindades atingem
os Devas[22],
mas os meus devotos vêm a mim.
-
As pessoas sem compreensão, que
não conhecem minha natureza mais elevada imutável e suprema, pensam em mim, que
sou não manifestado, como sendo manifestado.
-
Encoberto pela minha magia eu
não me revelo a todos. Este mundo
iludido não me conhece, eu que sou não-nascido e imutável.
-
Eu conheço igualmente os seres
do passado, do presente e do futuro: mas nenhum me conhece.
-
Todas as criaturas se iludem pela dualidade que provém do desejo e
da aversão.
-
Mas as pessoas que realizam ações virtuosas, nas quais o
pecado chegou ao fim, eles,
libertando-se da ilusão da dualidade e firmes em suas convicções, me
cultuam.
-
Aqueles que se refugiam em mim
e se esforçam para se libertar da
velhice e da morte, eles conhecem Brahman, o Eu mais elevado e tudo
sobre as ações.
-
Aqueles que me conhecem como o
ser supremo e o DEVA supremo, e também em todos os sacrifícios, eles que
possuem suas mentes unidas me
conhecem no próprio momento de sua morte.
Do Brahman Supremo
-
O que é aquele Brahman[23]?
O que é o EU superior? O que é a ação[24]?
O que são os seres materiais? E o que são os Devas?
-
Quem é o senhor do sacrifício e
como ele vive neste corpo? E como aqueles que possuem autocontrole podem
conhece-Lo no momento da morte?
-
O supremo Brahman é o
imutável. Sua natureza eterna é chamada de Eu supremo. O Karma é o poder que
gera a existência dos seres.
-
A natureza física é aquilo que
muda constantemente. A base dos DEVAS é a Pessoa. E eu próprio sou aquele que
existe em todos os sacrifícios, incorporado neste corpo.
-
Aquele que pensa apenas em mim
no momento da morte, ao entregar seu corpo, ele atinge o meu estado. Não há
dúvidas sobre isso.
-
Se alguém pensa em qualquer
natureza no fim de sua vida, ao deixar o corpo, ele atinge esse objetivo.
-
Portanto, pense em mim sempre,
e lute. Quando sua mente e intelecto estiverem estabelecidos em mim, você sem
dúvida virá até mim.
-
Aquele que dirige seu
pensamento para uma prática constante de
Yoga e que não se desvia para nenhuma outra coisa, ele atinge a
Pessoa suprema e divina.
-
Aquele que medita sobre o Vidente, o Antigo, o Legislador, menor do que o
indivisível, aquele que sustenta tudo, cuja forma é inconcebível, brilhante
como o Sol, além de todas as trevas.
-
Aquele que faz isso, no momento
de sua morte, com uma mente fixa, com
devoção e com o poder do Yoga, fixando sua força vital no ponto entre as
sobrancelhas, ele atinge essa Pessoa suprema divina.
-
Eu descreverei brevemente
aquele objetivo que os que conhecem
os Vedas chama de imperecível, que é atingido
pelos ascetas livres de paixão, e por cuja aspiração as pessoas praticam uma
vida de autocontrole.
-
Tendo controlado todas as portas do corpo, tendo confinado a mente
dentro do coração, e tendo fixado sai força vital na cabeça, estabelecido em
concentração pelo YOGA;
-
aquele que pronuncia a sílaba OM ou AUM[25],
que é o Brahman indestrutível, pensando em mim quando parte [desta
vida], ele atinge o objetivo supremo.
-
Eu sou fácil de atingir para
aquele yogue disciplinado que se lembra constantemente de mim, sem pensar em
mais nada.
-
Vindo a mim, estas grandes
almas não voltam ao renascimento, ao lugar de sofrimento e impermanência, pois
eles atingiram a perfeição completa da meta mais elevada.
-
Todos os mundos, do mundo de Brahman
para baixo, estão sujeitos ao retorno. Porém, não há renascimento depois de me
atingir.
-
...........
-
Eu agora lhe falarei sobre o
tempo em que os yogues, ao partirem, não retornam, e também sobre quando eles
retornam depois de partir.
-
Fogo, luz, dia, quinzena clara,
os seis meses do caminho setentrional do Sol – seguindo esse caminho quando
morrem, as pessoas que conhecem Brahman atingem Brahman.
-
Fumaça, noite, a metade escura
do mês, os seis meses do caminho meridional do Sol – seguindo esse caminho, os
yogues retornam, depois de atingir a luz da Lua.
-
Esses dois caminhos do mundo,
luz e trevas, são descritos pelas escrituras. Por um deles, ele não retorna,
pelo outro ele retorna de novo.
-
O yogue que conhece esses caminhos nunca se ilude. Portanto, seja
firma no Yoga em todos os tempos.
-
Tendo conhecido isso, o yogue
ultrapassa os frutos das ações meritórias declaradas em relação ao estudo dos
Vedas, sacrifícios, austeridades e presentes, e ele atinge o estado supremo primordial.
Do Conhecimento e Segredo Reais
-
Como você não é dado a
sofismas, Eu[26]
declararei o segredo mais elevado, que é a sabedoria combinada com a
realização. Conhecendo-o você será libertado do sofrimento.
-
Este é o conhecimento real, o segredo
real, o melhor santificador, conhecido por experiência direta, de acordo
com a lei, muito fácil de praticar e imperecível.
-
As pessoas que não dão valor a
este caminho não me atingem e dão voltas, retornando ao caminho da morte.
-
......
-
Os ignorantes me desprezam
vestido em um corpo humano, sem conhecer minha natureza mais elevada, como o
Senhor supremo de todos os seres.
-
Partilhando da natureza
enganadora dos espíritos malignos e dos demônios, suas esperanças são vãs, suas
ações são vãs, seu conhecimento é vão e eles estão vazios de sentido.
-
Os nobres, que possuem natureza
divina, certamente me cultuam sem se distrair, conhecendo-me como fonte
imperecível de todos os seres.
-
Sempre cantando minha glória e
esforçando-se, as pessoas que são firmes nos seus votos me cultuam, me obedecem
e estão sempre cheios de devoção.
-
Outros me cultuam e oferecem o
sacrifício da sabedoria vendo a unidade na dualidade e na diversidade que tem
muitas formas.
-
........
-
Os que conhecem os três Vedas,
bebem o Soma[27]
e estão puros do pecado, seguem o caminho celeste cultuando-me por sacrifícios.
Eles atingem o mundo de Indra[28]
e desfrutam no céu os prazeres das divindades.
-
Depois de desfrutar desse vasto
mundo celeste, eles entram no mundo dos mortais, quando seu mérito se exauriu.
Assim, os que seguem os deveres dos três Vedas e que desejam prazeres,
obtêm o mutável.
-
Mas os que se unem a mim, meditam em mim, e sempre me cultuam, para
estes eu preservo o que eles possuem e lhes garanto a obtenção do que eles não
têm.
-
........
-
Pois eu sou...o Senhor de todos
os sacrifícios. Mas aqueles que não me conhecem em minha realidade, caem.
-
Os que cultuam as divindades
chegam até as divindades, os que cultuam os antepassados vão até os
antepassados, os que cultuam os outros seres vão até os outros seres, e os que me cultuam vêm até mim.
-
Seja quem for que me ofereça
com devoção uma folha, uma flor, um fruto, ou água, eu aceito essa oferenda que
foi apresentada com devoção por uma pessoa pura.
-
Seja o que for que você faça,
seja o que for que você coma, seja o que for que você ofereça como sacrifício,
ou que você doe, sejam quais forem a austeridade que você pratique – faça isso,
como uma oferenda a mim.
-
Assim você se libertará das amarras das ações que produzem
resultados bons ou maus. Estando estabelecido firmemente na Yoga da
renúncia, você se tornará livre e chegará até mim.
-
Eu tenho a mesma atitude em
relação a todos os seres. Nenhum me é detestável ou amado. Mas aqueles que me
cultuam com devoção estão em mim e eu também neles.
-
Mesmo uma pessoa que faz as
ações mais abomináveis, se ela me cultua com uma devoção concentrada, ela deve
ser considerada como um santo, pois tomou a decisão certa.
-
Ele logo se torna virtuoso e
obtém a paz duradoura. Saiba com certeza que os meus devotos nunca são
destruídos.
-
Os que se refugiam em mim,
mesmo se nascerem inferiores – mulheres, mercadores e também serviçais – eles
também atingem a meta mais elevada.
-
Muito mais, então, os santos brâhmanas[29]
e os sábios governantes devotos. Tendo entrado neste mundo efêmero e de
sofrimento, você pode me cultuar.
-
Fixe sua mente em mim, devote-se a mim, sacrifique-se a mim,
reverencie-me. Concentrando sua mente e aceitando-me como o objetivo supremo,
você certamente me atingirá.
Da Manifestação
O Senhor Divino
disse:
-
............
-
Aquele que me conhece como não
nascido, sem início, o Senhor supremo dos mundos, esse mortal sem dúvida se
liberta de todos os pecados.
-
Inteligência, sabedoria,
libertação da ilusão, perdão, verdade, autocontrole, controle, felicidade e
sofrimento, nascimento e morte, medo e coragem;
-
Não-violência, igualdade da
mente, satisfação, austeridade, caridade, honra e desonra – tudo isso são
diferentes estados dos seres, que brotam apenas de mim.
-
.............
-
Aquele que me conhece realmente
este meu Yoga e manifestação,
ele se une por um Yoga que não falha. Não há dúvidas sobre isso.
-
.............
-
Com suas mentes fixas em mim, suas vidas totalmente dedicadas a mim,
iluminando-se uns aos outros e sempre conversando comigo, eles se satisfazem e
alegram.
-
..............
-
Por compaixão para com eles, eu
resido dentro deles e destruo as trevas que nascem da ignorância pela lâmpada
brilhante da sabedoria.
Arjuna[30] disse:
-
..............
-
Conte-me todas as suas manifestações divinas, sem exceção: onde
você reside, permeando esses mundos.
-
Como eu posso conhecê-lo pelo pensamento? Sob que aspectos sua
natureza deve ser conhecida?
-
Conte-me de novo em detalhe
sobre seu Yoga e manifestações, pois
eu não me canso de ouvir suas palavras a bebida da imortalidade.
O Senhor Divino
disse:
-
Eu lhe direi apenas quais são
as mais importantes das minhas manifestações
divinas, pois não há um limite para meu poder.
-
Eu sou o Eu que está dentro de todos os seres. Eu sou certamente o início, o meio e o fim de todos os seres.
-
................
-
............... Eu sou a
consciência nas criaturas.
-
.................
-
............... Entre as
vibrações, eu sou o uno imutável [Om[31]]..............
-
.................
-
Eu sou certamente o início, o
fim e o meio das criações. Eu sou o
conhecimento do Eu supremo, entre os conhecimentos. Daqueles que debatem, eu
sou o argumento lógico.
-
................ Sou o criador
cuja face está virada para todos os lados.
-
................ Eu sou a
origem das coisas que ainda vão surgir..............
-
................ Eu sou a
vitória, eu sou o esforço, eu sou a luz daquilo que é luminoso.
-
................ Entre os
segredos eu sou o silêncio. Entre os sábios, eu sou a sabedoria.
-
Eu sou a semente de todos os
seres. Não há nada que se mova ou que não se mova que possa existir sem mim.
-
Não há um limite para minhas manifestações divinas. O que eu descrevi
é apenas uma amostra de minhas manifestações.
-
Saiba que tudo o que tiver
poder, beleza e glória, brotou de um fragmento de meu esplendor.
-
Que necessidade existe desse
conhecimento detalhado? Eu sustento todo este universo com uma pequena parte de
mim.
Da Visão da Forma Universal
Arjuna[32] disse:
-
Minha confusão foi embora,
graças a este discurso sobre o Eu com que você me beneficiou, que é um segredo
supremo.
-
...............
-
Você é como declarou. Mas eu
desejo ver a sua forma poderosa.
-
Se você acha que eu posso
vê-la, revele-me seu Eu eterno.
O Senhor Divino
disse:
-
Contemple a minha forma que tem
cem aspectos, mil variedade, que é divina, que tem muitas formas e cores.
-
.................
-
Mas você não é capaz de me ver com seus próprios olhos. Eu lhe dou o
olho divino. Contemple meu Yoga poderoso.
Sãnjaya[33] disse:
-
Tendo falado assim, revelou
então sua forma suprema e divina.
-
.................
-
Então, Arjuna ficou
maravilhado e inclinou sua cabeça para baixo, saudando o Senhor com as duas
mãos juntas.
Arjuna disse
-
Eu vejo no seu corpo todos os
devas e as diversas multidões de seres...
-
Eu vejo com forma infinita para
todos os lados .............. No entanto, eu não vejo seu fim, nem seu início,
nem o meio.
-
................
-
Você é o imutável, o Supremo
que precisa ser conhecido. Você é o suporte final desse universo. Você é o
guardião imortal da lei eterna. Você é a pessoa eterna. Eu creio.
-
.................
-
Devorando todas as criaturas,
por todos os lados, com suas bocas flamejantes, você lambe os lábios. Seus
raios de fogo ardente preenchem totalmente este universo.
-
Diga-me que você é, com essa
forma tão terrível! Eu o saúdo. Seja bondoso. Eu desejo conhecê-lo, pois eu não
compreendo suas ações.
O Senhor Divino
disse:
-
Eu sou o tempo, o destruidor do
mundo, que amadureci e que agora estou empenhado em aniquilar as
criaturas.............
-
Portanto, erga-se e obtenha a
glória.................
-
................. Não tenha
medo. Lute. Você vencerá os inimigos na batalha.
Sãnjaya disse:
-
.................
Arjuna disse:
-
É correto que o mundo se alegre
e seja atraído para glorificá-lo ..............
-
E por que não deveriam se
inclinar em sua homenagem! ............
-
Você é o primeiro dos devas, a
pessoa primordial, o supremo lugar de repouso deste mundo. Você é aquele que
conhece e também aquilo que deve ser conhecido, e o objetivo supremo. Todo o
universo é permeado por você, que tem infinitas formas.
-
................ Saudação,
saudação a você, mil vezes. Saudação a você, muitas vezes. Saudação!
-
Saudação a você na frente [no Leste]
a atrás [Oeste]. Saudação a você em todos os lados! Você possui um poder
ilimitado e uma força infinita. Você penetra tudo e, portanto, é tudo.
-
Por qualquer coisa que eu tenha
lhe falado de modo desrespeitoso ...............;
-
e por qualquer desrespeito que
eu tenha mostrado por você em brincadeiras ................... eu lhe suplico
perdão.
-
Você é o pai de todos os seres
daqui................. Você é o objeto de culto e o maior mestre.
.................
-
Portanto, inclinando-me e
prosternando meu corpo diante de você, eu procuro sua graça...............
-
...................Mostre-me a
sua outra forma, e seja bondoso para comigo!
-
..................
O Senhor Divino
disse:
-
Por meu favor, pelo poder do
meu próprio Yoga, eu lhe mostrei essa forma suprema, luminosa, cósmica,
infinita e primordial que ninguém viu antes de você.
-
Eu não posso ser visto nesta
forma no mundo dos homens por qualquer outra pessoa além de você ............
-
Não fique com medo, não se
confunda vendo essa minha forma terrível. Liberto do medo e com o coração
alegre, contemple novamente essa minha outra forma.
Arjuna disse:
-
Vendo novamente esta sua forma
humana bondosa, minha mente se tornou calma e retornei à minha própria
natureza.
O Senhor Divino
disse:
-
Você viu essa minha forma que é
realmente muito difícil de ver...................
-
Eu não posso ser visto na forma
em que você me viu .......................
-
Porém, através da uma devoção a
mim que não vacila, eu posso ser conhecido e penetrado nessa forma.
-
Aquele que realiza obras para
mim, que me aceita como seu objetivo supremo, que me cultua, livre de prisões,
que se libertou da inimizade em relação a todas as criaturas, ele atinge a mim.
Da Devoção
Arjuna disse:
-
Quais são os melhores
praticantes de Yoga: aqueles devotos que se dedicam sempre a meditar
sobre você, ou aqueles que meditam sobre o imutável, o não-manifesto?
O Senhor Divino
disse:
-
Eu considero como yogues mais
perfeitos aqueles que, fixando em mim suas mentes, meditam sobre mim com
devoção firme e possuem a fé suprema.
-
Mas aqueles que meditam sobre o
imutável, o indefinível, o não-manifesto, o onipresente, o impensável, o
imóvel, o constante,
-
restringindo todos os sentidos,
mantendo-se sempre equilibrados, dedicados ao bem de todos os seres, eles
realmente vêm a mim.
-
Para aqueles que voltam seu
pensamento para o não-manifesto, o esforço é maior, pois o fim do não-manifesto
é difícil de atingir pelos seres incorporados.
-
Mas aqueles que, dedicando a
mim todas as suas ações, meditam em mim e me cultuam como o supremo, com uma
concentração que não oscila,
-
aqueles cujos pensamentos estão
colocados em mim, eu os livro sem demora do oceano dessa existência que está
associada à morte.
-
Fixe sua mente apenas em mim,
deixe que seu intelecto resida em mim. Você viverá apenas em mim, sem dúvida.
-
Se, no entanto, você não for
capaz de manter sua mente fixa constantemente em mim, então, tente atingir-me
pela prática da concentração.
-
Se você for incapaz de
atingir-me mesmo por essa prática, então pratique suas ações para mim.
Realizando as ações por mim, você também atingirá a perfeição.
-
Se você não é capaz de fazer
nem isso, então, entregando-se ao meu Yoga, renuncie aos resultados de
todas as ações, controlando sua mente.
-
O conhecimento é realmente
superior à prática; a meditação é melhor do que o conhecimento; a renúncia ao
resultado das ações é melhor do que a meditação. Pela renúncia, segue-se
imediatamente a paz.
-
Aquele que não odeia nenhuma
criatura, que é amigável e compassiva, livre de egoísmo e de sentido do eu, que
é o mesmo no sofrimento e no prazer, que perdoa,
-
aquele que é um Yogue que está
sempre satisfeito, autocontrolado, com determinação inabalável, com a mente e
intelecto dedicados a mim – esse que é meu devoto me é caro.
-
Aquele de quem o mundo não foge
e que não foge do mundo e que está livre da alegria, raiva, medo e impaciência,
também me é caro.
-
Aquele que não tem
expectativas, que é puro, hábil na ação, imparcial, livre de perturbações, que
desistiu de toda iniciativa – esse que é meu devoto me é caro.
-
Aquele que nem se alegra nem
odeia, não lamenta nem deseja, e que renunciou ao bem e ao mal, esse que é meu
devoto me é caro.
-
Aquele que é o mesmo para o
inimigo e o amigo, e também na honra e na desonra, que é o mesmo ........... no
prazer e na dor, e que está livre de ligações por qualquer coisa,
-
aquele para quem crítica e
elogio são iguais, que é silencioso, contentando-se com qualquer coisa,
.................., cuja mente é firme e que é devotado a mim, me é caro.
-
Mas aqueles devotos que me
aceitam como seu fim supremo e seguem com fé esta sabedoria imortal, esses me são muito, muito caros.
Da Distinção entre o Campo e o Conhecedor do Campo
Arjuna disse:
-
Eu gostaria de conhecer a
natureza e a pessoa, o campo e o conhecedor, o conhecimento e o objeto do
conhecimento.
O Senhor Divino
disse:
-
Este corpo é chamado de campo.
Os que sabem, chamam aquele que está consciente dele de conhecedor do campo.
-
........................
-
Ouça de mim, rapidamente, o que
é o campo, qual é sua natureza, quais suas modificações, de onde ele vem, e
quem ele [o conhecedor] é, e quais são os seus poderes.
-
........................
-
Os [cinco] elementos
grosseiros, o órgão do eu, o intelecto, e também o não-manifesto, os dez órgãos
e a mente, e os cinco objetos dos sentidos;
-
desejo, repulsa, alegria,
tristeza, o agregado [corpo e órgãos], inteligência, poder – em resumo, isso é
o campo, juntamente com as modificações.
-
Humildade, ausência de vaidade,
não-violência, perdão, firmeza, serviço ao mestre, pureza, firmeza, controle do
corpo e dos órgãos;
-
indiferença em relação aos
objetos dos sentidos, ausência de egoísmo, perceber o mal no nascimento, morte,
velhice, doenças e sofrimento;
-
desprendimento, ausência de
apego por filho, esposa, casa e coisas semelhantes, e uma mente sempre igual
com relação aos acontecimentos desejáveis e indesejáveis;
-
devoção inabalável por mim, com
concentração total, inclinação a lugares solitários, desgostoso de multidões;
-
constância no conhecimento do
eu, visão clara do objetivo do conhecimento da verdade – isso é chamado de
conhecimento, e tudo o que difere é ignorância.
-
Eu descrevi aquilo que deve ser
conhecido, e por cujo conhecimento se obtém a imortalidade. É o Brahman[34]
supremo, que não tem início e que nem existe nem não existe.
-
... Ele reside nas criaturas,
permeando todas elas.
-
... Sem se ligar a nada, mas
sustentando tudo, livre de poderes e, no entanto, percebendo-os.
-
Ele está fora e dentro de todos
os seres...
-
... Ele sustenta todos os
seres, mas também os destrói e os cria de novo.
-
... Ele é o conhecimento, o
objeto do conhecimento e o objetivo do conhecimento. Ele está sentado no
coração de todos.
-
Assim descrevi de modo breve o
campo, e também o conhecimento e o objeto do conhecimento. Meus devotos que compreendem isso se tornam dignos de meu estado.
-
Saiba que tanto a natureza
quanto a pessoa não possuem início; e saiba também que as modificações e os
poderes nascem de Prakriti.[35]
-
... A pessoa é a causa em
relação à experiência de prazer e dor.
-
A pessoa, na natureza,
compartilha das qualidades que nascem da natureza...
-
A suprema pessoa neste corpo é Aquele
que é a testemunha, o permissor, o sustentáculo, aquele que experimenta, e que
também é o grande senhor e o eu supremo.
-
Aquele que conhece assim a pessoa e a natureza, juntamente com as
qualidades, não nascerá de novo, seja qual for o seu modo de viver.
-
Alguns percebem o eu no
intelecto, pela meditação, com a ajuda do órgão interno; outros, pelo caminho
do conhecimento, e outros pelo caminho das ações.
-
Outros, que não sabem isso,
devotam-se após ouvir o que outros dizem. E eles também ultrapassam a morte por
sua devoção àquilo que ouviram.
-
Todos os seres que se movem e
os que não se movem, saiba que eles nascem pela união do campo e do conhecedor
do campo.
-
Aquele que vê o senhor supremo
existindo igualmente em todos os seres, e que nunca perece quando eles perecem,
este realmente vê.
-
Como ele vê o senhor presente
igualmente em todos os lugares, ele não fere o eu pelo eu, e assim ele atinge a
meta suprema.
-
Aquele que vê que todas as
ações são feitas apenas pela natureza e também que o Eu não age, este realmente
vê.
-
Quando se percebe que a
diversidade dos seres tem suas raízes na unidade, e que sua manifestação se
origina daquilo, então ele se identifica com Brahman.
-
Este eu supremo é imutável, sem
início, sem qualidades; ele não age nem é afetado, embora resida no corpo.
-
Como o éter que permeia tudo
não é manchado, por ser sutil, da mesma forma o eu que está presente em todos
os corpos não é manchado.
-
Assim como o Sol ilumina todo
este mundo, da mesma forma o conhecedor do campo ilumina todo o campo.
-
Aqueles que percebem assim pelo olho da sabedoria a distinção entre
o campo e o conhecedor do campo, e a libertação dos seres da natureza, eles
atingem o supremo.
Da Distinção entre os Três Poderes
O Senhor Divino
disse:
-
Eu direi novamente a sabedoria
suprema, o melhor de todos os conhecimentos. Conhecendo-o, os sábios deste
mundo atingiram a mais elevada perfeição.
-
Tendo recorrido a essa
sabedoria e atingido a identidade comigo, eles não nascem mesmo durante a
criação, nem são destruídos no tempo da dissolução.
-
........................
-
Os três poderes, luz, paixão e trevas,
nascidos da natureza, prendem no corpo o imperecível que mora no corpo.
-
Desses, a luz, sendo pura, causa iluminação e saúde. Ela prende pelo apego à
felicidade e pelo apego ao conhecimento.
-
Saiba que a paixão tem a natureza da atração,
surgindo do desejo e do apego. Ela prende fortemente o incorporado pelo apego
às ações.
-
Mas saiba que as trevas, que iludem todos os seres
incorporados, nasce da ignorância. Ela prende desenvolvendo qualidades de
negligência, preguiça, sono.
-
SATTVA[36]
prende a pessoa à felicidade, RAJAS[37]
às ações, mas TAMAS[38],
encobrindo a sabedoria, prende à preguiça.
-
SATTVA prevalece quando domina
RAJAS e TAMAS. RAJAS, quando domina SATTVA e TAMAS; e TAMAS, dominando SATTVA e
RAJAS.
-
Quando a luz do conhecimento se irradia neste corpo por todas as portas,
então sabe-se que SATTVA aumentou.
-
Quando RAJAS aumenta, surgem
avareza, movimento, ações, inquietação, desejo.
-
Quando TAMAS aumenta, surgem a
ignorância, inércia, preguiça e ilusão.
-
Se o incorporado morre quando
SATTVA predomina, então ele atinge os mundos imaculados daqueles que conhecem o
mais elevado.
-
Se uma pessoa morre quando
RAJAS predomina, ele nasce entre aqueles que estão presos à ação; e se morre
quando TAMAS predomina, ele nasce como uma criatura inferior.
-
Dizem que o fruto da ação correta é puro e da natureza de
SATTVA. O fruto de RAJAS é o sofrimento,
e o de TAMAS é a ignorância.
-
De SATTVA nasce o conhecimento, e de RAJAS a avareza. De TAMAS nascem o
descuido, a ignorância e também a
ilusão.
-
Aqueles que estão estabelecidos
em SATTVA sobem alto; os que são dominados por RAJAS ficam no meio; os que são
controlados por TAMAS e que se dedicam às atividades inferiores, vão para
baixo.
-
Quando a testemunha percebe que
apenas os GUNAS[39]
agem, e também conhece aquilo que está além dos GUNAS, ele atinge minha
natureza.
-
Quando o incorporado sobe acima desses três poderes que brotam do
corpo, ele se liberta do nascimento, da morte, da velhice e da dor, e atinge a
imortalidade.
Arjuna disse:
-
Por quais sinais se pode reconhecer aquele que ultrapassou os três
poderes? Qual é seu modo de vida? Como ele ultrapassa esses três poderes?
O Senhor Divino
disse:
-
Aquele que não se desgosta com a luz, a
atividade e a ilusão quando elas surgem, nem os deseja quando cessam;
-
Aquele que se assenta como uma pessoa
indiferente, sem se perturbar pelos poderes; aquele que permanece firme e na
verdade não se move, sabendo que apenas os poderes agem;
-
Aquele que considera como iguais a dor e
o prazer, que está estabelecido em seu próprio EU, que vê um torrão de terra,
uma pedra e um pedaço de ouro como igualmente valiosos, que permanece o mesmo
entre coisas agradáveis e desagradáveis, que tem a mente firme e considera o
elogio e a crítica como iguais;
-
Aquele que é o mesmo na honra e na
desonra, que têm a mesma atitude para os amigos e inimigos, que renunciou a
toda iniciativa de ação – diz-se que ele
ultrapassou os poderes.
-
..............................
Da Pessoa Suprema
O Senhor Divino
disse:
-
A árvore imortal tem suas
raízes para cima e ramos para baixo. Suas folhas são os Vedas[40].
Aquele que a conhece é um conhecedor dos Vedas.
-
Seus ramos se estendem para
baixo e para cima, nutridos pelos poderes. Seus brotos são os objetos dos
sentidos. As raízes, que resultam nas ações, se espalham nos mundos dos homens.
-
Sua forma real não é percebida
aqui desse modo, nem seu início, nem seu fim, nem sua continuação. Tendo
cortado, com a forte espada do desapego, essa árvore que está firmemente
enraizada,
-
deve-se procurar aquele estado
do qual, quando é atingido, ninguém retorna novamente: Eu me refugio apenas na
Pessoa Primordial, da qual surgiu essa manifestação universal.
-
Aqueles que, livres do orgulho e da ilusão, conquistaram o mal do
apego; que se devotam sempre ao espírito supremo, com os desejos acalmados,
libertos das dualidades do prazer e da dor, e que não se iludem, atingem aquele
estado eterno.
-
........................
-
Uma parcela de mim, tornando-se
uma alma eterna individual no domínio dos seres vivos, atrai para si os órgãos
que residem na natureza, dos quais a mente é o sexto.
-
Quando o Senhor toma um corpo e
quando o deixa, ele parte levando estes [os sentidos e a mente] ...
-
Ele desfruta dos objetos dos
sentidos, utilizando a audição, a visão, o tato, o paladar, o olfato e também a
mente.
-
As pessoas iludidas não o veem
quando ele parte, quando permanece ou quando desfruta, mas aqueles que possuem
o olho da sabedoria veem.
-
Os yogues que se esforçam também o percebem como estabelecido em si
próprios. Aqueles que não têm discriminação, que não possuem autocontrole,
embora se esforcem, não o encontram.
-
........................
-
..., eu sustento todos os seres
por minha energia vital...
-
........................
-
E estou alocado no coração de
todos. A memória, o conhecimento e também sua perda dependem de mim. Eu sou
realmente aquele que deve ser conhecido por todos os vedas. Eu sou também o
autor do Vedanta[41]
e sou também o conhecedor dos Vedas.
-
Há duas pessoas neste mundo – a
mutável e a imutável. A mutável está em todos esses seres, e o poder
imperecível é a imutável.
-
Mas, além desses, existe a
pessoa suprema, que é chamada de Eu supremo. Ele permeia e sustenta todos os
três mundos, e é o Senhor imortal.
-
Eu estou além daquilo que é
mutável, e sou mais elevado do que o imutável. Eu sou a pessoa suprema que é
celebrada no mundo e nos Vedas.
-
Aquele que, livre da ilusão, me conhece como a pessoa suprema, ele
sabe tudo e me cultua com todo o seu ser.
-
Assim eu lhe ensinei a doutrina
mais secreta, a você que não tem pecado. Conhecendo isso, uma pessoa se torna
sábia e terá preenchido todas as suas obrigações.
Da Distinção entre os Atributos Divinos e
Demoníacos
O Senhor Divino
disse:
-
Ausência de medo, pureza da
mente, persistência no conhecimento e no Yoga, caridade, autocontrole,
sacrifício, estudo das escrituras, austeridade, retidão;
-
não violência, veracidade,
ausência de raiva, renúncia, tranquilidade, evitar críticas falsas, compaixão
por todos os seres vivos, estar livre da inveja, gentileza, modéstia, firmeza;
-
vigor, perdão, segurança,
pureza, estar livre de malícia e de orgulho – estas são as características
daquele que nasceu com uma natureza divina.
-
Ostentação, arrogância,
vaidade, raiva, rudeza, ignorância – estas são as qualidades daquele que nasceu
com uma natureza demoníaca.
-
As qualidades divinas proporcionam a libertação, e as demoníacas a
escravidão...
-
Neste tipo de mundo há dois
tipos de criaturas, os divinos e os demoníacos. Os divinos já foram
descritos detalhadamente. Ouça agora
de mim sobre os demoníacos.
-
Os demoníacos não conhecem o
caminho da ação nem o da renúncia. Não existe neles nem pureza, nem ação
correta, nem verdade.
-
Eles dizem que o mundo é
irreal, sem uma base, sem um Senhor, que não surgiu de uma causa, que foi
produzido pelo desejo.
-
Mantendo essa opinião, essas
almas perdidas de entendimento fraco, de feitos cruéis, surgem como inimigos do
mundo para destruí-lo.
-
Entregando-se a um desejo
insaciável, cheios de hipocrisia, arrogantes e com orgulho excessivo,
defendendo ideias erradas por causa da ilusão, eles agem com decisões impuras.
-
Obcecados por inúmeros cuidados
que somente terminam com sua morte, envolvidos na gratificação de desejos como
o seu fim mais elevado, sentido certeza de que isso é tudo;
-
apegados a centenas de laços do
desejo, entregues ao prazer e à raiva, eles se esforçam por acumular fortunas,
por meus injustos, para desfrutar de seus desejos.
-
........................
-
Confundidos por muitos
pensamentos, capturados na rede da ilusão, viciados pela gratificação de seus
desejos, eles caem em um inferno imundo.
-
Cheios de vaidade, teimosos,
cheios de orgulho e com a arrogância da riqueza, eles realizam sacrifícios
apenas nominalmente, com ostentação e se levar em conta as regras corretas.
-
Entregues ao egoísmo, ao uso da
força, da vaidade, da paixão e da raiva, essas pessoas invejosas por natureza
me odeiam dentro de si próprias e nos outros.
-
.......................
-
Há três portas infernais que
levam à destruição da alma: paixão, raiva e avareza. Portanto, elas devem ser abandonadas.
-
Aquele que se libertou
dessas três portas das trevas faz aquilo que é bom para sua alma, e assim
atinge a meta mais elevada.
-
Mas aquele que despreza os preceitos das escrituras, que age sob o
impulso das paixões – ele não atinge nem a perfeição, nem a felicidade, nem a
meta suprema.
-
Portanto, que as escrituras
sejam sua autoridade para determinar o que deve ser feito e o que não deve ser
feito. Sabendo o que é declarado pelas regras das escrituras, você deve cumprir
o seu dever neste mundo.
Da Distinção entre os Três Tipos de Fé
Arjuna disse:
-
Qual é o estado daqueles que,
ignorando as normas das escrituras, mas cheios de fé, oferecem sacrifícios? É SATTVA, RAJAS OU TAMAS?
O Senhor Divino
disse:
-
A fé do que está incorporado é
de três tipos, que nascem de sua própria natureza, tendo características de
SATTVA, RAJAS OU TAMAS. Ouça agora sobre isso.
-
A fé de cada ser está de acordo
com a sua natureza. O homem é da natureza de sua fé: seja qual for a fé que ele
tiver, ele realmente é isso.
-
Os que possuem a natureza de SATTVA cultuam os DEVAS. Os que possuem RAJAS, os
semideuses e os demônios; e os outros, que são
controlados por TAMAS, cultuam os espíritos e os fantasmas.
-
As pessoas vaidosas que são
impelidas pela força da paixão e do desejo, que realizam austeridades
violentas, que não são prescritas pelas escrituras;
-
sendo tolas, elas torturam os
órgãos no seu corpo e também a mim, que resido no corpo. Saiba que elas possuem
uma fé demoníaca.
-
Mesmo o alimento, de que todos
precisam, é de três tipos; e também os sacrifícios, as austeridades e os
presentes. Ouça agora a distinção entre eles.
-
Os alimentos que contribuem para a vida, a vitalidade, a força, a
saúde, a alegria e o espírito luminoso, e que são doces, macios, nutritivos e
agradáveis, são próprios das pessoas dotadas de SATTVA.
-
Alimentos amargos, ácidos, salgados, muito quentes, pungentes, secos
e adentes, que produzem dor, sofrimento e doença, esses são os preferidos da
pessoa de RAJAS.
-
Alimentos que estão
estragados, sem gosto, podres, velhos, que foram jogados fora e impuros, são
alimentos preferido da pessoa de TAMAS.
-
O sacrifício que é oferecido de acordo com as normas das escrituras,
por aqueles que não esperam recompensa e que acreditam firmemente que é seu
dever oferecer o sacrifício, é SATTVA.
-
Mas aquele que é oferecido com a expectativa de resultados, ou para
ostentação, saiba que esse sacrifício é devido a RAJAS.
-
O sacrifício que não está de
acordo com as normas, no qual não se distribui nenhum alimento, não são
cantados hinos e não são feitos presentes aos sacerdotes, que é vazio de fé, é
declarado ser do tipo TAMAS.
-
O culto dos devas, dos que
nasceram duas vezes, dos mestres e dos sábios; pureza, retidão, celibato e não
violência – essas são as austeridades do
corpo.
-
Falar coisas que não produzem
sofrimento, o que é verdadeiro, agradável e benéfico, e a recitação regular dos
Vedas – essas são as austeridades da
fala.
-
Serenidade mental, gentileza,
silêncio, autocontrole, pureza do coração –essas são chamadas de austeridades mentais.
-
Essa austeridade tripla praticada com fé suprema por pessoas com a
mente equilibrada, sem expectativa de recompensas, é considerada SATTVA.
-
Quando a austeridade é realizada para obter fama, honra e reverência
e por exibicionismo, ela é considerada RAJAS: é instável e não dura.
-
A austeridade que é
realizada com um objetivo tolo, causando dor a si mesmo, ou prejudicando outras
pessoas, é considerada TAMAS.
-
O presente que é feito a uma pessoa sem esperar retribuição, com o
sentimento de que é o seu dever dar, e que é oferecido no lugar e momento
corretos a uma pessoa merecedora, é considerado SATTVA.
-
Mas o presente que é dado com a esperança de uma retribuição, com a
expectativa de um ganho futuro ou quando é dado de forma dolorosa, esse é
considerado RAJAS.
-
O presente que é feito em
lugar e momento errados, a uma pessoa que não merece, sem tratamento adequado e
com desprezo, é considerado TAMAS.
-
A designação tríplice de Brahman
é ‘OM TAT SAT’[42].
Através disso formam ordenados os antigos Brahmanas, os Vedas e
os sacrifícios.
-
Portanto, os atos de
sacrifício, os oferecimentos de presentes e as austeridades prescritas pelas
escrituras são sempre realizadas pelos que estudam e expõem Brahman
depois de pronunciar a sílaba OM.
-
E com a pronúncia da palavra
TAT, pelas pessoas que realizam sacrifícios e austeridades e os vários tipos de
doações, pelos que buscam a libertação, sem esperar pelos resultados.
-
A palavra SAT é empregada no
sentido de realidade e de bondade. A palavra SAT também é utilizada para os
ritos auspiciosos.
-
A constância no sacrifício, na
austeridade e na doação é também chamada de SAT; e qualquer ação com esse
propósito também chamada de SAT.
-
Seja qual for o presente feito,
seja qual for a austeridade realizada, seja qual for o rito observado, se ele é
feito sem fé, é chamado de ASAT, e não serve para nada, nem aqui nem depois da
morte.[43]
Da Libertação pela Renúncia
Arjuna disse:
-
Eu desejo saber a verdadeira
natureza da renúncia e também do abandono.
O Senhor Divino
disse:
-
Os sábios entendem por renúncia
desistir das ações que são feitas com um desejo de resultados. Os sábios chamam
de abandono desistir dos resultados de todas as ações.
-
Algumas pessoas cultas dizem
que as ações estão repletas de mal, e deve-se desistir delas; outros declaram
que não se deve desistir dos atos de sacrifícios, das doações e das
austeridades.
-
Ouça agora de mim a verdade
sobre o abandono. O abandono foi descrito como sendo de três tipos.
-
A prática de sacrifícios,
doações e austeridades não devem ser abandonados, mas devem ser realizados.
Pois sacrifício, doações e austeridades purificam os sábios.
-
Mas mesmo essas ações devem ser
realizadas abandonando qualquer apego e desejo pelos frutos. Isso é minha visão
final e decisiva.
-
Realmente, não é correto
desistir das ações obrigatórias. Abandoná-las por ignorância é da natureza de
TAMAS.
-
Aquele que desiste de um dever
porque é penoso, ou por medo de sofrimento físico, realiza apenas o abandono do
tipo RAJAS, e não obtém os resultados do abandono.
-
Todo dever obrigatório que é
realizado apenas porque é um dever, renunciando a todo apego e também ao fruto
– esse abandono é considerado do tipo SATTVA.
-
A sábio, que renuncia, cujas
dúvidas foram desfeitas, que tem natureza de SATTVA, não tem aversão pela ação
desagradável, nem se apega à ação agradável.
-
É realmente impossível para
qualquer um que tem um corpo se abster das ações completamente. Mas aquele que
abandona o fruto da ação é aquele que renuncia.
-
O triplo resultado da ação –
agradável, desagradável e misto – se prende depois da morte naqueles que não
renunciaram, mas nunca àqueles que renunciaram.
-
Aprenda de mim esses cinco
fatores para a realização de todas as ações, conforme exposto pela doutrina
SAMKHYA.
-
O lugar da ação, o agente, os
diferentes tipos de órgãos, os muitos tipos de atividades, e o divino é o
quinto.
-
Esses cinco são a causa de
qualquer ação que uma pessoa realize com o corpo, fala ou mente, seja ela justa
ou incorreta.
-
Assim sendo, a pessoa de mente
perversa que, por causa de seu intelecto imperfeito, considera a si próprio
como o único agente, não vê corretamente.
-
Aquele que está livre do
sentimento do ego, cujo intelecto não está sujo, mesmo se ele matar essas
pessoas, ele não matará nem estará preso às ações.
-
O conhecimento, o objeto do
conhecimento e o conhecedor – esses três são os que incitam à ação. O
instrumento, a ação e o agente são os três que compõem a ação.
-
No ensinamento sobre os
poderes, diz-se que o conhecimento, a ação e o agente são de três tipos, de
acordo com a diferença dos poderes. Ouça também isso, devidamente.
-
O conhecimento pelo qual o ser
imperecível é visto em tudo aquilo que existe, sem divisão em todas as coisas
divididas – saiba que esse conhecimento é do tipo SATTVA.
-
O conhecimento que vê uma
multiplicidade de seres nas diversas criaturas, por causa de suas diferenças –
saiba que esse conhecimento é do tipo RAJAS.
-
Mas aquele [conhecimento]
estreito, que se prende a um único efeito como se fosse tudo, sem conhecimento
de causa, sem captar o real – saiba que esse é do tipo TAMAS.
-
A ação que é obrigatória, que é
realizada sem nenhum apego, sem atração ou repulsa por uma pessoa que não
espera os frutos, é considerada do tipo SATTVA.
-
Mas a ação que é realizada por
uma pessoa que deseja seus resultados, ou que é egoísta, e que é feita com
muito esforço, é considerado do tipo RAJAS.
-
A ação que é feita com
ignorância, sem conhecer as consequências, os danos ou as perdas, sem levar em
conta a habilidade, essa é considerada do tipo TAMAS.
-
O agente que está livre de
apego, que não é egoísta, que está cheio de resolução e de zelo e que não é
perturbado pelo sucesso ou pelo fracasso – diz-se que ele é do tipo SATTVA.
-
O agente que está dominado pela
paixão, que procura avidamente os frutos das ações, que é cruel, impuro e
movido pelo prazer e pela dor – diz-se que ele é do tipo RAJAS.
-
O agente que é instável,
ingênuo, teimoso, enganador, malicioso, preguiçoso, lento e que está sempre
atrasado – diz-se que ele é do tipo TAMAS.
-
Ouça agora a classificação do
intelecto e também da estabilidade, que é de três tipos de acordo com os GUNAS,
que será apresentada de modo completo e detalhado.
-
O intelecto nascido de SATTVA
compreende a ação e a não-ação, o que deve ser feito e o que não deve ser
feito, o que deve ser temido e o que não deve ser temido, o que prende e o que
liberta.
-
O intelecto nascido de RAJAS
compreende de um modo equivocado o que é correto e o que é errado, e também o
que deve ser feito e o que não deve ser feito.
-
O intelecto nascido de TAMAS
pensa que o errado é correto e vê todas as coisas de um modo contrário ao que
elas são.
-
A firmeza inabalável pela qual,
pela concentração, se controla as atividades da mente, as forças vitais e os
sentidos, essa é do tipo SATTVA.
-
Mas a firmeza pela qual a
pessoa se prende ao dever, aos prazeres e à riqueza, desejando os frutos das
ações, essa é do tipo RAJAS.
-
A firmeza pela qual um tolo não
para de dormir, não abandona o medo, a tristeza, o sofrimento e a arrogância,
essa é do tipo TAMAS.
-
Ouça agora de mim os três tipos
de felicidade. Aquela de um homem desfruta devido a uma longa prática, e na
qual ele atinge o fim de todo sofrimento.
-
Aquela felicidade que é como um
veneno no início, mas comparável a um líquido celeste no fim, e que surge de
uma compreensão pura do eu, esta é do tipo SATTVA.
-
Aquela felicidade que surge do
contato dos sentidos com seus objetivos e que é como uma bebida celeste no início,
mas como veneno no fim – tal felicidade é do tipo RAJAS.
-
A felicidade que ilude a pessoa
tanto no início quanto no fim e que provém do sono, da preguiça e da
negligência – essa é declarada ser do tipo TAMAS.
-
Não existe nenhuma criatura no
mundo ou mesmo entre os devas[44]
celestes que esteja livre dos três poderes que nascem da natureza.
-
Os deveres dos BRAHMANAS[45],
dos KSHATRIYAS[46],
dos VAISHYAS[47] e
também dos SHUDRAS[48]
foram classificados devidamente de acordo com as qualidades [GUNAS] que nascem
da natureza.
-
Controle dos órgãos,
austeridade, pureza, perdão, retidão, sabedoria, conhecimento e fé religiosa –
esses são os deveres dos BRAHMANAS, que provêm de sua natureza.
-
Heroísmo, coragem, força,
habilidade, prontidão, não fugir da batalha, generosidade e liderança – esses
são os deveres dos KSHATRIYAS, que nascem de sua natureza.
-
Agricultura, cuidar do gado e
comércio são os deveres dos VAISHYAS, que nascem de sua natureza. O dever do
SHUDRA, que nasce de sua natureza, é servir aos outros.
-
Devotando-se cada um a seu
próprio dever, o homem atinge a perfeição. Ouça como uma pessoa devotada a seu
próprio dever atinge o sucesso.
-
Uma pessoa atinge a perfeição
realizando seu próprio dever e cultuando aquele de quem todos esses seres
surgem, e por quem tudo isso é permeado.
-
É melhor seguir o seu próprio
dever, mesmo se for imperfeito, do que seguir o dever de outra pessoa, mesmo
perfeito. Não se incorre em pecado quando se desempenha o dever que é
determinado por sua própria natureza.
-
Não se deve desistir do dever
com o qual se nasceu, mesmo se ele é imperfeito. Pois todos os esforços estão
encobertos por defeitos, como o fogo pela fumaça.
-
Aquele cujo intelecto permanece
sem apego a qualquer coisa, que dominou seus órgãos internos e que é sem desejo
– ele atinge a perfeição pela renúncia, transcendendo todos os deveres.
-
Ouça agora de mim,
resumidamente, como aquele que atingiu a perfeição chega a Brahman, que
é a suprema consumação da sabedoria.
-
Dotado de um intelecto puro,
controlando-se firmemente, desviando-se do som e dos outros objetos dos
sentidos e abandonando a atração e a aversão;
-
morando na solidão, comendo
pouco, controlando as palavras, o corpo e a mente, e sempre dedicado à
meditação e à concentração, e livre das paixões;
-
abandonando o ego, a força, a
arrogância, o desejo, a raiva, as posses, com a mente serena, ele se torna
digno de se unir a Brahman.
-
Tornando-se um com Brahman,
e tendo o eu cheio de felicidade, ele nem lamenta nem deseja. Considerando
todos os seres como iguais, ele atinge a suprema devoção a mim.
-
Pela devoção ele me conhece
realmente, o que eu sou, e quem eu sou. Então, tendo me conhecido realmente,
ele entra em mim.
-
Realizando constantemente todas
as ações, refugiando-se em mim, ele atinge por meu dom aquele estado eterno,
imutável;
-
entregando-me mentalmente todas
as ações, aceitando-me como o supremo e mantendo a mente sempre fixa em mim,
pela concentração do seu intelecto;
-
fixando seu pensamento em mim,
você conseguirá, por minha graça, atravessar todas as dificuldades. Mas se, por
causa de seu ego, você não me ouvir, você será destruído.
-
Se, por causa do seu ego, você
pensar: “Eu não lutarei”, isso será em vão, porque sua natureza o impelirá.
-
Aquilo que você não quer fazer
por estar iludido, você fará mesmo contra a vontade, forçado pelos atos que
nascem de sua natureza.
-
O Senhor reside no coração de
todos os seres, fazendo todos girarem por seu poder como se estivessem montados
sobre uma máquina.
-
Refugie-se nele, com todo o seu
ser. Por sua graça você obterá a paz suprema e a morada eterna.
-
Eu lhe declarei a sabedoria que
é mais secreta do que todos os segredos. Reflita sobre isso tudo, e faça o que
você escolher.
-
Ouça de novo minha palavra
suprema, a mais secreta de todas. Você é amado por mim, portanto eu lhe direi o
que é benéfico para você.
-
Fixe sua mente em mim,
devote-se a mim, sacrifique-se por mim, prosterne-se diante de mim, e assim
você virá até mim. Eu lhe prometo isso, pois você me é caro.
-
Abandonando todos os rituais e
deveres, refugie-se apenas em mim. Eu o livrarei de todos os males, por isso
não tema.
-
Isso nunca deve ser ensinado a
quem tem uma vida sem austeridades, ou que não tem devoção ou quem não é
obediente ou que fala negativamente de mim.
-
Aquele que ensina este segredo
supremo aos meus devotos, mostrando a mais elevada devoção a mim, virá a mim
sem dúvida.
-
Comparado com ele, ninguém faz
um melhor serviço de mim. E não haverá ninguém mais caro a mim no mundo do que
ele.
-
E aquele que estudar esse nosso
diálogo sagrado, que conduz à perfeição, me cultuará com o sacrifício na forma
do conhecimento. Assim eu o declaro.
-
Aquele que ouvir isso com
reverência e sem zombaria, também ele será liberado e atingirá os mundos
daqueles que realizam ações virtuosas.
-
Você ouviu isso com a sua mente
fixa em um ponto? A ilusão causada pela ignorância foi destruída?
Arjuna disse:
-
Minha ilusão foi destruída, e
recobrei o conhecimento por sua graça. Eu estou firme, com minhas dúvidas
removidas. Eu seguirei as suas palavras.
-
........................
Brevíssimo Comentário
Esse épico hindu representa uma alegoria entre o divino e
profano. As forças cósmicas, que regem o mundo visível e invisível, apontam
métodos e procedimentos para a libertação dos seres incorporados. Ao estarem
escravizados pela ignorância, os seres se submetem ao ciclo de nascimento e
morte. Neste sentido, a libertação pode ser conquistada com a leitura correta
desse jogo cósmico, que segundo a mitologia hindu passa pela experimentação do
divino de e em cada ser. Esse exercício descobre o verdadeiro eu, entendido
como o mesmo de e em cada ser, que criou e recria permanentemente a ilusão da
natureza.
Arjuna, ao
ser convencido pelo Senhor Divino quanto a sua real missão no mundo manifesto,
passa a crer na possibilidade da libertação, visando retornar à eternidade do
mundo não-manifesto.
A missão de cada qual, então, deve ser cumprida superando a
ignorância imposta pelos objetos dos sentidos. Ao passo da reconversão interior
com o auxílio eficaz da concentração da mente frente a expectativa de sua
quietude, a prática da meditação leva o ser incorporado a alcançar a máxima
libertação ainda em vida.
A partir de então, e até a morte, o ser incorporado passa a
viver livre das sensações que os objetos dos sentidos impõem pela ilusão à sua
natureza egóica.
O principal indicador dessa liberdade ainda em vida está
representado pela compaixão, na medida em que o ser incorporado sente seu
verdadeiro eu em todos os seres e em todas as coisas.
O mais importante para que o presente comentário, todavia,
não represente um mero exercício mental, é ressaltar que somente com a prática
espiritual a libertação poderá ser realizada.
[1] Arjuna - terceiro dos príncipes Pándavas. Filho de Pándu e Prithá, ou Kuntí. Na verdade, Arjuna foi misticamente engendrado pelo deus Indra.
[2] Dhritaráshtra - rei de Hastinápura. Cego de nascença, teve que
renunciar ao trono em favor de Pándu,
seu irmão menor. Teve cem filhos com Gándharí.
O mais velho era Duryodhana.
[3] Pándu - segundo filho de Vyása, irmão do rei cego Dhritaráshtra, pai adotivo dos cinco
príncipes pándavas.
[4] Kuru - antigo rei, antecessor
comum dos Kurus e dos Pandavas.
[5] Sanjaya - sutá do rei Dhritaráshtra.
Dotado por Vyasa da percepção
celeste, para poder informar o rei cego dos detalhes da batalha, inclusive do
diálogo entre Krishna e Arjuna.
[6] Pándava - nome derivado de Pándu, designa seus descendentes.
[7] Duryodhana - primogênito dos
príncipes Kauravas, filho de Dhritarashtra. Dominado pela inveja e
pela ambição, foi causa da guerra entre Kauravas
e Pándava.
[8] Drupada - rei dos Panchálas, um dos chefes do exército Pándava.
[9] Bhima - segundo dos príncipes Pándavas, engendrado misticamente por Váyu, deus do ar. Comandante do exército
Pándava.
[10] Hrishikesha - senhor dos
sentidos, \"o de cabeleira frisada\". Sobrenome de Krishna. Krishna - oitava encarnação de Vishnu; o Salvador; o deus mais popular
da Índia. Filho de Vasudeva e Devaki, era primo de Arjuna. Para escapar da perseguição de
seu tio Kansa, foi entregue aos
cuidados de uma família de pastores, que vivia do outro lado do rio Yamuná. Percorreu a Índia com seus
discípulos, predicando.
[11] Bhárata - suposto primeiro rei
da Índia.
[12] Gudákesha - senhor do sono, ou
\"de cabeleira redonda\", sobrenome de Arjuna.
[13] Pártha - nome de família de Arjuna, filho de Prithá.
[14] Kuntí ou Prithá - uma das esposas de Pándu, mãe de Yudishtira,
Bhíma e Arjuna, engendrados misticamente pelos deuses Dharma, Váyu e Indra.
[15] Vedas - Escrituras sagradas.
Antiquíssimos, supostamente revelados pelo próprio Brahmá. Inicialmente transmitidos por tradição oral, foram mais
tarde compilados por Vyása.
[16] Samádhi - contemplação extática
em que se chega a perder a consciência da própria individualidade. O grau
superior do Yoga.
[17] Sattva - a primeira das três
qualidades da matéria: bondade, pureza, verdade, luz, placidez, estabilidade, energia
etc.
[18] Átman - o Eu Supremo, Espírito.
Significa também: natureza, essência, caráter, vida, coração, mente,
inteligência, pensamento etc.
[19] Bramána ou Brâmane - indivíduo da casta sacerdotal, a primeira das
quatro castas da Índia. Comentários ou interpretações de certas partes dos Vedas.
[20] Brahman - o Ser Supremo, o
Absoluto, o Espírito Universal e Eterno; o Impessoal, Supremo e inconcebível
princípio do Universo.
[21] Ascese =
s. f. 1. Estado de alma do asceta. 2. Prática das virtudes pelo exercício da
vontade, pela meditação, pela mortificação (Dic. Michaelis – UOL).
[22] Do Sânscrito
devas, ‘brilhante’. Substantivo masculino. Filosofia: nas religiões do Oriente,
cada uma das divindades masculinas que se situam entre os seres divinos
superiores e os homens. P. ex.: no bramanismo, deuses benéficos e imortais a
quem se oferecem sacrifícios. [fem.: devi]. Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira. O Novo Dicionário Aurélio –
Eletrônico – adiciona os significados ‘sagrado’ e ‘dos deuses’.
[23] Brahman - o Ser Supremo, o
Absoluto, o Espírito Universal e Eterno; o Impessoal, Supremo e inconcebível
princípio do Universo.
[24] Karma - ação, obra,
função, ofício, cargo, dever etc. Também significa o destino que surge da
natureza de cada indivíduo, moldado por suas palavras, ações, pensamentos e
desejos (da existência atual ou das anteriores). (sublinhado meu).
[25] Mistério dos
mistérios, essência da sabedoria. A palavra que manifesta a divindade (Fonte: a
mesma da nota de rodapé n°. 22).
[26] O Senhor Divino.
[27] Soma - a Lua, a seiva, bebida
sagrada.
[28] Indra ou Vásava deus do firmamento, rei das divindades siderais.
[29] Bramána ou Brâmane - indivíduo da casta sacerdotal, a primeira das
quatro castas da Índia. Comentários ou interpretações de certas partes dos Vedas.
[30] Opressor dos
Inimigos (um dos epítetos de Arjuna).
[31] OM ou AUM - mistério dos mistérios, essência da sabedoria. A palavra que
manifesta a divindade.
[32] Opressor dos
Inimigos (tradução do epíteto de Arjuna).
[33] Sutá (condutor de carro).do rei Dhritaráshtra. Dotado por Vyasa (compilador. O mais conhecido é Krishna Dwaipáyana, que compilou o Mahabhárata, o Vedánta etc.) da percepção celeste, para poder informar o rei cego
dos detalhes da batalha, inclusive do diálogo entre Krishna e Arjuna.
[34] Brahman - o Ser Supremo, o
Absoluto, o Espírito Universal e Eterno; o Impessoal, Supremo e inconcebível
princípio do Universo.
[35] Prakriti - natureza material em
oposição a Purusha, ou Espírito.
Eterna e incriada como o Espírito, diferencia-se deste por ser inconsciente,
ativa e sempre sujeita a transformações.
[36] Sattva - a primeira das três
qualidades da matéria: bondade, pureza, verdade, luz, placidez, estabilidade,
energia etc.
[37] Rajas - segunda qualidade da
matéria. Paixão, agitação, mobilidade, atividade, ambição, dor etc.
[38] Tamas - terceira das qualidades
da matéria. Escuridão, trevas, torpeza, ignorância, apatia, negligência,
inércia, insensatez etc.
[39] Gunas - os três modos,
qualidades ou atributos que constituem a matéria: sattwas, rajas e tamas.
[40] Vedas - Escrituras sagradas.
Antiquíssimos, supostamente revelados pelo próprio Brahmá. Inicialmente transmitidos por tradição oral, foram mais
tarde compilados por Vyása.
[41] Vedánta - o sistema de
interpretação dos Vedas. Uma das seis
escolas filosóficas da Índia.
[42] OM ou AUM - mistério dos mistérios, essência da sabedoria. A palavra que
manifesta a divindade. TAT - Aquele,
o Universo. SAT - Aquele que é, o
Ser, a Realidade Única.
[43] Asat - não-ser. A natureza
objetiva considerada ilusória.
[44] Deva - ser celestial, divindade
inferior.
[45] Bramána ou Brâmane - indivíduo da casta sacerdotal, a primeira das
quatro castas da Índia. Comentários ou interpretações de certas partes dos Vedas.
[46] Kshatriya - guerreiro. Indivíduo
pertencente a segunda casta da Índia.
[47] Vaishya - indivíduo pertencente
à terceira casta, a dos comerciantes e agricultores.
[48] Shúdra - indivíduo da casta
inferior, a dos servos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário