domingo, 22 de maio de 2016

NEM À ESQUERDA; MUITO MENOS À DIREITA: MAS À FRENTE!

Correção antes da ideologia: uma homenagem a 2016!

Inicio a reflexão afirmando ou informando que fui um ex-quase anarquista covarde. Ao sair da Universidade, formado em engenharia civil e administração e recém-casado, tive contato teórico com os textos de Bakunin, Proudhon, Malatesta, Kropotkin, dentre outros, como Tolstói. Estávamos em 1983/1984. Apesar de não ter avançado numa prática mais contundente, passei a adotar algumas amarras e limites para questionar a autoridade e a evitar acumulação.

Na realidade, creio que conflitos com a autoridade fazem parte da personalidade desta forma ordinária, que sempre estabelece o contraditório com firmeza e determinação. Sempre questionador, em algumas oportunidades históricas arranhou a relação hierárquica inerente às instituições. Nessas experiências, imbuído de boa intenção ideológica vertida ao autodesenvolvimento, sempre observou e constatou a limitação que a autoridade política determina na criação humana.

No plano pessoal, como já disse em outros escritos, optei em me tornar um pequeno burguês servindo à sociedade via Estado, em detrimento de ir atuar diretamente no mercado. Até mesmo por incompetência em comprar/produzir para vender ou simplesmente vender conhecimento. Até mesmo pela oportunidade do momento histórico pós-formatura. Ou ainda pela tradição familiar. Mas entendi e aceitei a oportunidade profissional ao ajustamento ideológico. Creio que o público alvo do pequeno burguês é mais coletivo do que o do empreendedor e do empresário ou mesmo do profissional do capital.

Nessa seara, consegui, junto com minha companheira, encaminhar nossas filhas para a vida e para o mercado, não sem contar com a ajuda de muitas pessoas, como pais e irmãos, dentre outros amigos. Hoje, conseguimos manter o núcleo familiar com apenas uma casa, duas contas bancárias e dois carros, meus e de minha companheira, simbolizando a opção mínima no acumular.

Mas essa pequena introdução biográfica é apenas para consubstanciar as opções políticas. Mais uma vez, contrariando o anarquismo, na sua vertente anarco-sindicalista, sempre fiz opção política pelo voto. E, face ao histórico da formação socioeconômica nacional, sempre marcando posições à esquerda. Assim, me enamorei pelo discurso ético-moralista do Lula e do PT. Quase me filiei à legenda, retrocedendo quando percebi o assembleísmo com que suas decisões são tomadas, apenas aparentemente negando o coronelismo.

Votei no Lula até quando em 2005 senti cheiro de podre ao ele afirmar à sociedade brasileira que nada sabia sobre o que viria a ficar conhecido como escândalo do mensalão. Como pode o capataz da engrenagem estar preso e o coronel não? Ou vice-versa? A oposição errou ou medrou ao argumentar a governabilidade, e proteger a economia que ia bem, frente à possibilidade de aprofundar as investigações antes das eleições de 2006. Engraçado que foi nessa época em que deixei de ser aproveitado profissionalmente em nível de cargos de confiança, exatamente após as experiências na administração FHC. Talvez meus pares, já intuindo minha construção ideológica, como já dito e redito, vertida ao autodesenvolvimento, associado ao fato de que andava no chão institucional e nos salões sociais com estrelinha do PT no peito, afastaram-me, por precaução ou por outro motivo qualquer, dos círculos da corte.

Esse corte foi sacramentado na administração da Dilma, quando um ferrenho correligionário petista assumiu um cargo sob o qual estava subordinado. A essa altura, já havia me manifestado como ex-voto ideológico do PT. Por uma ou por outra razão, carta fora do baralho, consolidado o estigma de polemista ou por força de manifesta inconformidade psicossocial, como rascunhou uma colega da Suframa. Outro colega já havia afirmado que o jogo é complexo, talvez insinuado que incautos e neófitos não devem jogá-lo. Mas, a ideologia do autodesenvolvimento continuou agregando valores, com novos dados, informações e conhecimento. Sem a habilidade do agir politicamente correto, avancei questionando a natureza intrínseca da ZFM, que gera dependência aos investimentos e pacotes tecnológicos que financiam a industrialização de Manaus.

Quase escorrego na temática à qual me apego em demasia e que me é cara. Mas a ideia é associar a oportunidade que o anarquismo me deu, de estar à frente, especialmente hoje após a frustrada experiência histórica do lulapetismo. A administração Lula navegou em voo de cruzeiro, quando as demandas chinesas pelas commodities brasileiras estavam em alta. Essa condição favorável, junto com a estabilidade da moeda conquistada as duras penas na administração FHC, financiou a adoção de políticas de inclusão e de assistência social, inauguradas sob a égide da socialdemocracia tucana, com o idealismo da primeira dama Ruth Cardoso. O “sucesso” dessa política sustentou 13 anos de exercício de poder. É fácil administrar na fartura; difícil é superar os momentos de dificuldade com criatividade e responsabilidade.

O lulapetismo teria estado à altura do momento histórico que teve se tivesse tido a responsabilidade de reduzir os programas sociais, revendo seus critérios e níveis e reformatando seus projetos e ações, aos primeiros sinais de desgaste e de esgotamento de suas fontes de financiamento. Mas preferiu jogar o rombo para debaixo do tapete para não perder as eleições. Jamais poderia ter sido colocado em risco a economia como um todo, drenando o tesouro nacional, para sustentar uma igualdade de oportunidades insustentável. Seu número, 13, apontava para a magia; hoje representa o trágico!

Infelizmente, ou felizmente, o sistema que organiza a sociedade humanoide é o capitalista, que gera acumulações e exclusões. Não à toa, tocado pelo anarquismo, creio que a ala política mais aderente à perspectiva distributiva está à esquerda. Mas a insistência de políticas populares, em nível de opção governamental não pode, não deve provocar contrações, depressões e recessões, solapando as próprias conquistas sociais, como se fez. O sistema capitalista por si só já é temerário frente aos seus ciclos econômicos. No sentido da consciência econômica, talvez o melhor exemplo latino seja o chileno.

A decepção e ceticismo, todavia, foi maior e irrevogável com a corrupção, supostamente para financiar um projeto político totalitário. Aqui ratifico o título da reflexão: correção antes da ideologia. Realmente foi estarrecedor o estrago causado pelo lulapetismo desde o mensalão até o petrolão. E aqui não está a salvo nenhuma figura política, nem à esquerda, nem à direita. Nestas plagas tupiniquins, pequenas fortunas foram formadas desde a implantação da Nova República, sob o slogan “rouba, mas faz”. Projeto político que, em verdade, ainda se reproduz, ora à direita mascarado de esquerda; ora à esquerda utilizando-se da direita. Portanto, sempre a direita dando as ordens e tentando promover o progresso, como é do DNA positivista da República.

Segundo especialistas, caso a Petrobrás adote as melhores práticas e estratégias a partir de 2016, retornará aos níveis de valorização de mercado, com investimentos de liderança, somente daqui a uma década. Será que temos consciência do que isso significa? O lupatismo exponenciou ao quase-infinito o mesmo expediente, a mesma prática histórica da direita, porém, se lambuzando como todo novo rico emergente, sem tradição nas coisas boas da vida, que infelizmente o sistema capitalista nega à maioria. Mas essa condição não justifica: antes a correção, ante a ideologia. Cheguei até a publicar no meu sítio uma carta aberta à presidente, parabenizando-a pelas medidas moralizadoras adotadas no início do primeiro mandato. Ledo engano; quanta ingenuidade. O pior já estava em curso.

Nesse cenário de tristeza e decepção com a atual formação socioeconômica nacional, penso que as investigações devem avançar, retirando do poder todo aquele que faz da Constituição Federal e do Estado de Direito, respectivamente, peça e ordem de ficção científica. O Tio Sam afirmou que a democracia brasileira está forte. Discordo frontalmente, pois nossas instituições devem ser fortalecidas na base com educação e instrução do povo. Nossos políticos corruptos não devem encontrar facilidades de toda ordem para se manterem no poder; antes devem encontrar obstáculos intransponíveis para se candidatarem em prol do progresso. E os eleitores devem ter a consciência do que seja realmente importante para a sociedade como um todo. Tanto no curto, quanto no médio prazo, e especialmente no longo prazo, enquanto projeto de sociedade.

Para este pensador, hoje com 57 anos, portanto, não valem nem os discursos de esquerda, muito menos os de direita. Mas os que se posicionam à frente. À frente com uma postura verdadeiramente ética, de respeito ao coletivo, ao poder e recursos do povo. À frente com a ética da autossustentabilidade. À frente com a possibilidade da meritocracia. À frente com uma maior taxação de grandes fortunas. À frente com a extinção do direito de herança de família. À frente, sim, com programas de inclusão social, quando estes forem possíveis, sem prejuízo à solvência da economia capitalista.

Comunismo, ou melhor, socialismo real, é quando o Estado é proprietário dos meios de produção, quando o mercado é substituído pelo planejamento central e quando o contrato social não cultua a propriedade privado como esteio da sociedade. Esse tipo de organização social representa uma experiência histórica falida. Da mesma forma, a estória de que comunista come criançinha também já era. A direita conservadora deveria ser mais séria com conceitos historicamente estabelecidos e consagrados na academia. A superação do capitalismo não depende de canetadas, nem mesmo de armas, mas da extirpação dos venenos da ambição, da inveja, do orgulho sediados coração. Até lá, muito aprendizado amoroso e compassivo vai rolar debaixo da dualidade!


Essa visão política ideológica, à frente, foi possível incorporar com a leitura da doutrina anarquista e com a sensibilidade às mudanças climáticas, que oportunizou a percepção das causas e efeitos das rachaduras do tecido social e das demandas planetárias vertidas à sustentabilidade. Hoje amenizada e organizada com a busca do autoconhecimento, que adota como pressuposto a impermanência de tudo e de todos.

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