Correção
antes da ideologia: uma homenagem a 2016!
Inicio a reflexão afirmando ou informando que fui um
ex-quase anarquista covarde. Ao sair da Universidade, formado em engenharia
civil e administração e recém-casado, tive contato teórico com os textos de Bakunin,
Proudhon, Malatesta, Kropotkin, dentre outros, como Tolstói. Estávamos em
1983/1984. Apesar de não ter avançado numa prática mais contundente, passei a
adotar algumas amarras e limites para questionar a autoridade e a evitar
acumulação.
Na realidade, creio que conflitos com a autoridade
fazem parte da personalidade desta forma ordinária, que sempre estabelece o
contraditório com firmeza e determinação. Sempre questionador, em algumas
oportunidades históricas arranhou a relação hierárquica inerente às
instituições. Nessas experiências, imbuído de boa intenção ideológica vertida
ao autodesenvolvimento, sempre observou e constatou a limitação que a
autoridade política determina na criação humana.
No plano pessoal, como já disse em outros escritos, optei
em me tornar um pequeno burguês servindo à sociedade via Estado, em detrimento
de ir atuar diretamente no mercado. Até mesmo por incompetência em comprar/produzir
para vender ou simplesmente vender conhecimento. Até mesmo pela oportunidade do
momento histórico pós-formatura. Ou ainda pela tradição familiar. Mas entendi e
aceitei a oportunidade profissional ao ajustamento ideológico. Creio que o
público alvo do pequeno burguês é mais coletivo do que o do empreendedor e do
empresário ou mesmo do profissional do capital.
Nessa seara, consegui, junto com minha companheira,
encaminhar nossas filhas para a vida e para o mercado, não sem contar com a
ajuda de muitas pessoas, como pais e irmãos, dentre outros amigos. Hoje, conseguimos
manter o núcleo familiar com apenas uma casa, duas contas bancárias e dois
carros, meus e de minha companheira, simbolizando a opção mínima no acumular.
Mas essa pequena introdução biográfica é apenas para
consubstanciar as opções políticas. Mais uma vez, contrariando o anarquismo, na
sua vertente anarco-sindicalista, sempre fiz opção política pelo voto. E, face
ao histórico da formação socioeconômica nacional, sempre marcando posições à
esquerda. Assim, me enamorei pelo discurso ético-moralista do Lula e do PT.
Quase me filiei à legenda, retrocedendo quando percebi o assembleísmo com que
suas decisões são tomadas, apenas aparentemente negando o coronelismo.
Votei no Lula até quando em 2005 senti cheiro de
podre ao ele afirmar à sociedade brasileira que nada sabia sobre o que viria a
ficar conhecido como escândalo do mensalão. Como pode o capataz da engrenagem
estar preso e o coronel não? Ou vice-versa? A oposição errou ou medrou ao
argumentar a governabilidade, e proteger a economia que ia bem, frente à
possibilidade de aprofundar as investigações antes das eleições de 2006. Engraçado
que foi nessa época em que deixei de ser aproveitado profissionalmente em nível
de cargos de confiança, exatamente após as experiências na administração FHC.
Talvez meus pares, já intuindo minha construção ideológica, como já dito e
redito, vertida ao autodesenvolvimento, associado ao fato de que andava no chão
institucional e nos salões sociais com estrelinha do PT no peito, afastaram-me,
por precaução ou por outro motivo qualquer, dos círculos da corte.
Esse corte foi sacramentado na administração da
Dilma, quando um ferrenho correligionário petista assumiu um cargo sob o qual
estava subordinado. A essa altura, já havia me manifestado como ex-voto
ideológico do PT. Por uma ou por outra razão, carta fora do baralho, consolidado
o estigma de polemista ou por força de manifesta inconformidade psicossocial,
como rascunhou uma colega da Suframa. Outro colega já havia afirmado que o jogo
é complexo, talvez insinuado que incautos e neófitos não devem jogá-lo. Mas, a
ideologia do autodesenvolvimento continuou agregando valores, com novos dados,
informações e conhecimento. Sem a habilidade do agir politicamente correto,
avancei questionando a natureza intrínseca da ZFM, que gera dependência aos
investimentos e pacotes tecnológicos que financiam a industrialização de
Manaus.
Quase escorrego na temática à qual me apego em
demasia e que me é cara. Mas a ideia é associar a oportunidade que o anarquismo
me deu, de estar à frente, especialmente hoje após a frustrada experiência
histórica do lulapetismo. A administração Lula navegou em voo de cruzeiro,
quando as demandas chinesas pelas commodities brasileiras estavam em alta. Essa
condição favorável, junto com a estabilidade da moeda conquistada as duras
penas na administração FHC, financiou a adoção de políticas de inclusão e de
assistência social, inauguradas sob a égide da socialdemocracia tucana, com o
idealismo da primeira dama Ruth Cardoso. O “sucesso” dessa política sustentou
13 anos de exercício de poder. É fácil administrar na fartura; difícil é
superar os momentos de dificuldade com criatividade e responsabilidade.
O lulapetismo teria estado à altura do momento
histórico que teve se tivesse tido a responsabilidade de reduzir os programas
sociais, revendo seus critérios e níveis e reformatando seus projetos e ações,
aos primeiros sinais de desgaste e de esgotamento de suas fontes de
financiamento. Mas preferiu jogar o rombo para debaixo do tapete para não
perder as eleições. Jamais poderia ter sido colocado em risco a economia como
um todo, drenando o tesouro nacional, para sustentar uma igualdade de
oportunidades insustentável. Seu número, 13, apontava para a magia; hoje
representa o trágico!
Infelizmente, ou felizmente, o sistema que organiza
a sociedade humanoide é o capitalista, que gera acumulações e exclusões. Não à
toa, tocado pelo anarquismo, creio que a ala política mais aderente à
perspectiva distributiva está à esquerda. Mas a insistência de políticas
populares, em nível de opção governamental não pode, não deve provocar contrações,
depressões e recessões, solapando as próprias conquistas sociais, como se fez.
O sistema capitalista por si só já é temerário frente aos seus ciclos
econômicos. No sentido da consciência econômica, talvez o melhor exemplo latino
seja o chileno.
A decepção e ceticismo, todavia, foi maior e
irrevogável com a corrupção, supostamente para financiar um projeto político
totalitário. Aqui ratifico o título da reflexão: correção antes da ideologia.
Realmente foi estarrecedor o estrago causado pelo lulapetismo desde o mensalão
até o petrolão. E aqui não está a salvo nenhuma figura política, nem à
esquerda, nem à direita. Nestas plagas tupiniquins, pequenas fortunas foram
formadas desde a implantação da Nova República, sob o slogan “rouba, mas faz”.
Projeto político que, em verdade, ainda se reproduz, ora à direita mascarado de
esquerda; ora à esquerda utilizando-se da direita. Portanto, sempre a direita
dando as ordens e tentando promover o progresso, como é do DNA positivista da
República.
Segundo especialistas, caso a Petrobrás adote as
melhores práticas e estratégias a partir de 2016, retornará aos níveis de
valorização de mercado, com investimentos de liderança, somente daqui a uma
década. Será que temos consciência do que isso significa? O lupatismo
exponenciou ao quase-infinito o mesmo expediente, a mesma prática histórica da
direita, porém, se lambuzando como todo novo rico emergente, sem tradição nas
coisas boas da vida, que infelizmente o sistema capitalista nega à maioria. Mas
essa condição não justifica: antes a correção, ante a ideologia. Cheguei até a
publicar no meu sítio uma carta aberta à presidente, parabenizando-a pelas
medidas moralizadoras adotadas no início do primeiro mandato. Ledo engano;
quanta ingenuidade. O pior já estava em curso.
Nesse cenário de tristeza e decepção com a atual formação
socioeconômica nacional, penso que as investigações devem avançar, retirando do
poder todo aquele que faz da Constituição Federal e do Estado de Direito,
respectivamente, peça e ordem de ficção científica. O Tio Sam afirmou que a
democracia brasileira está forte. Discordo frontalmente, pois nossas
instituições devem ser fortalecidas na base com educação e instrução do povo. Nossos
políticos corruptos não devem encontrar facilidades de toda ordem para se manterem no
poder; antes devem encontrar obstáculos intransponíveis para se candidatarem em prol do progresso. E os
eleitores devem ter a consciência do que seja realmente importante para a
sociedade como um todo. Tanto no curto, quanto no médio prazo, e especialmente
no longo prazo, enquanto projeto de sociedade.
Para este pensador, hoje com 57 anos, portanto, não
valem nem os discursos de esquerda, muito menos os de direita. Mas os que se
posicionam à frente. À frente com uma postura verdadeiramente ética, de
respeito ao coletivo, ao poder e recursos do povo. À frente com a ética da
autossustentabilidade. À frente com a possibilidade da meritocracia. À frente
com uma maior taxação de grandes fortunas. À frente com a extinção do direito
de herança de família. À frente, sim, com programas de inclusão social, quando estes
forem possíveis, sem prejuízo à solvência da economia capitalista.
Comunismo, ou melhor, socialismo real, é quando o
Estado é proprietário dos meios de produção, quando o mercado é substituído
pelo planejamento central e quando o contrato social não cultua a propriedade
privado como esteio da sociedade. Esse tipo de organização social representa
uma experiência histórica falida. Da mesma forma, a estória de que comunista
come criançinha também já era. A direita conservadora deveria ser mais séria
com conceitos historicamente estabelecidos e consagrados na academia. A
superação do capitalismo não depende de canetadas, nem mesmo de armas, mas da
extirpação dos venenos da ambição, da inveja, do orgulho sediados coração. Até lá,
muito aprendizado amoroso e compassivo vai rolar debaixo da dualidade!
Essa visão política ideológica, à frente, foi
possível incorporar com a leitura da doutrina anarquista e com a sensibilidade
às mudanças climáticas, que oportunizou a percepção das causas e efeitos das
rachaduras do tecido social e das demandas planetárias vertidas à
sustentabilidade. Hoje amenizada e organizada com a busca do autoconhecimento,
que adota como pressuposto a impermanência de tudo e de todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário