Dos
delírios e aberrações esquizofrênicas zonafranquinas
Antes de
demonstrar os obstáculos para o autodesenvolvimento, no sentido do embotamento
da mente coletiva associado ao capital social de Manaus e do capital
intelectual dos agentes do sistema de inovação, devemos ter nas mãos o que
significa a palavra esquizofrenia. Do dicionário eletrônico Miniaurélio,
extraímos o que segue:
Substantivo feminino.
Grupo de distúrbios mentais que, basicamente, demonstram dissociação e discordância das funções psíquicas, perda de unidade da personalidade, ruptura de contato com a realidade.
§ es.qui.zo.frê.ni.co adj. sm.
Grupo de distúrbios mentais que, basicamente, demonstram dissociação e discordância das funções psíquicas, perda de unidade da personalidade, ruptura de contato com a realidade.
§ es.qui.zo.frê.ni.co adj. sm.
Portanto, o termo aponta para uma ruptura frente à realidade, além de
transformar o substantivo feminino num adjetivo masculino. Fico agora à vontade
para sugerir que a ZFM, tratada como modelo, como um fim em si mesmo, e não
como projeto, como um meio para o autodesenvolvimento, nos desconecta com a
natureza fundamental do capitalismo, estruturada na acumulação de capital e na
apropriação de conhecimento, via competição, e não por meio da solidariedade.
Ou seja, ou os locais caminham com as próprias pernas, criando suas próprias
firmas, ou seus cidadãos permanecerão ou se tornarão sujeitos de segunda
categoria. O conjunto de distúrbios da mente coletiva manauara está dissociado
e em discordância com a lógica capitalista, permanecendo na esfera cadente,
porque dependente, da atração de investimentos vis a vis da substituição de importações.
Adotar o mito do desenvolvimento unicamente à perna da atração de
investimentos, reduz o crescimento econômico à uma questão contábil, na medida
em que evitamos a importação de produtos para consumo no mercado doméstico, mas
em contra partida ficamos dependentes de investimentos, metrificados pelos
plantas industrias transferidos de alhures por alheios, e de tecnologia,
metrificada pelos pacotes tecnológicos concernentes associados às licenças de
produção, às assistências técnicas e à importação de insumos que constituem
segredos estratégicos. Portanto, não é suficiente que as firmas e marcas
globais atraídas para a ZFM sejam constituídas pelas leis brasileiras.
Na realidade, é bom que se diga que Manaus representa uma imagem em
miniatura do Brasil, onde continuamos dependentes de tecnologia que geram
produtos dinâmicos derivados da fronteira tecnológica. Ou seja, nacionalmente
ainda não conseguimos nos libertar da dependência gerada com o Plano de Metas
que construiu a diversificada plataforma industrial pátria, ainda que sejamos a
uma das maiores economias do planeta. É fácil verificar essa dependência,
quando se percebe que seguimos crescendo na onda das commodities e que não
temos firmas e marcas globais na esteira das grandes tendências tecnológica da
microeletrônica, por exemplo. Essa condicionalidade dependente caracteriza a
nova hegemonia de poder global, não mais lastreada na posse do território, como
da realização dos grandes impérios, mas na posse da tecnologia frente aos
estados nacionais tardios e seus pertinentes processos de industrialização
tardios.
Isto posto, podemos agora retornar ao objetivo fulcral desta reflexão
que é apontar as aberrações e os delírios zonafranquinos, desde a perspectiva
esquizofrênica. Para tanto, basta recorrer à qualquer listagem das 100 maiores
indústrias do PIM. Adotei, fruto de uma busca rápida na grande rede, um
levantamento da Revista Circuito de 2007, com base no ano 2006. Apesar estar
desatualizada, serve para nossos propósitos, pois a essência do ano base 2014
não deve ter alterado o que desejamos demonstrar, mas apenas mostraria novos
entrantes, reproduzindo seus capitais de origem e realizando a mais-valia
global. Então vamos lá.
Nessa lista, entre as maiores marcas que faturaram ente US$ 500 milhões
e US$ 2,8 bilhões em 2006, constavam apenas uma empresa considerada brasileira,
pelo capital, que é a Recofarma, e
apenas uma joint-venture onde uma das bandeiras era a brasileira, que é SEMP
TOSHIBA. Todas as outras eram ou japonesa, ou finlandesa, ou norte americana,
ou holandesa, ou sul-coreana. Provavelmente nessa lista hoje, devemos ter alguma
grande firma e marca chinesa. Todos esses países desenvolveram em suas plagas
pátrias políticas industriais e tecnológicas que privilegiaram as dimensões
patrimoniais de suas firmas, tanto em nível de criação, quanto de consolidação
de suas solvências nos mercados locais e internacionais. Consultando a
Wikipédia, a enciclopédia livre da grande rede, consolidamos os seguintes dados
e informações básicas sobre esses gigantes que se instalaram na ZFM.
1. A líder
de faturamento é a Honda, que manteve sua razão social do tempo do seu
estabelecimento na ZFM, Moto Honda, em associação com firma importadora local.
Seu slogan é ‘o poder dos sonhos’. Realmente, esse é uma grande lição na forma
de sutra: para ir longe, para ir além, temos que sonhar, idealizar, projetar e
executar. E não apenas copiar, na realidade, nesse caso nem mesmo copiamos. Foi
criada em 1948, portanto, num ambiente pós-guerra, de reconstrução do Japão,
por Soichiro Honda. Sua sede é em Tóquio. Possui 167.231 empregados. Seus
produtos são: automóveis, caminhões, motocicletas, motonetas, quadriciclos,
geradores, robótica, equipamentos marinhos, jatos, equipamentos para jardins. É
um gigante!
2. A Nokia
foi criada em 1865 por Fredrik Idestam. Seus produtos são: torre de dados
4G-3G, sistemas, bancos e switches wireless. Em 2013, disponha de 97.000
empregados. Seu lucro em 2014 foi de € 6,5 bilhões. Em 2007, a Nokia era líder
mundial na fabricação de aparelhos de telecomunicações móveis, com cerca de 40%
do mercado mundial. Não à toa, foi líder de investimentos em P+D em decorrência
da Lei de Informática. Em 2013, a divisão de sua linha de produção foi
adquirida pela Microsoft. A Microsoft é uma empresa transnacional
estadunidense com sede em Redmond, Washington, que desenvolve, fabrica,
licencia, apóia e vende softwares de computador, produtos eletrônicos,
computadores e serviços pessoais. É uma firma contemporânea criada em 1975, cujos
proprietários estão arrolados como dois dos sujeitos mais ricos do planeta. São
ambas gigantes.
3. Recofarma é uma empresa
brasileira, ainda que totalmente de
propriedade da COCA-COLA DO BRASIL
sediada no Rio de janeiro e pertencente à multinacional The Coca-Cola Company. Atua na área de produção de
bebidas, sendo a fabricante de todas suas marcas pertencentes a esse poderoso
grupo econômico, entre elas o refrigerante mais vendido do mundo, a Coca-Cola.
Em 2011, a Recofarma se tornou a maior exportadora do Amazonas, com uma geração
de US$ 120 milhões de divisas na venda de concentrados. A Recofarma é a 3ª maior fabricante em
volume de produção da Coca-Cola no mundo. De fato, embora tenha em sua formação
algum capital nacional, a tecnologia
que utiliza está amarrada talvez ao maior segredo industrial da história da
humanidade. A situação, certamente, é a mesma junto ao Grupo Simões, firma de capital local que
atua com franquia da multinacional, produzindo refrigerantes. Portanto,
não seria o que é não seriam o que são se não fossem as licenças para
produzir um produto que representa uma das maiores marcas contemporâneas, que
por ironia disputa com a marca Amazônia. Mas esta não gera riquezas no chão
amazônico para os amazônidas na forma de amazonidades.
4. A
Philips aparece em quarto lugar na ordem de faturamento no PIM em 2006. Tem
origem holandesa, tendo sido criada em 1891. Seu lucro em 2010 no mercado de
eletrônica de consumo, lâmpadas e sistemas médicos foi de US$ 1,9 bilhão. Em
2011 contava com 119.000 empregados. Já em 2007 operava na ZFM numa parceria
estratégica com a LG, que desponta na sexta posição na ordem de faturamento no
PIM, em 2006.
5. Na
quinta posição está uma gigante sul-coreano, a Samsung. A Samsung foi fundada
em 1936 por Lee Byunq-chul. Em 2013 tinha 489.000 empregados, quando acumulou
US$ 22,1 bilhões em lucros, produzindo e vendendo smartphones, TVs, câmeras
fotográficas, CDs, DVDs, discos rígidos, drives óticos, home theaters,
impressoras, dentre outros, desde um faturamento de US$ 529.5
Bilhões. É um bom exemplo para nós que devemos trilhar a vereda do
autodesenvolvimento, pois sua evolução se deu após a idealização de uma
política industrial e tecnológica por parte da Coréia do Sul no final dos anos
1950 e início dos anos 1960, portanto, praticamente coincidindo com o período
histórico da ZFM. Isso deveria nos dizer alguma coisa.
6. A LG, como já dito, vem em seguida. Trata-se
de uma co-irmã da Samsung em termos de fruto da mesma política de
desenvolvimento nacional. Portanto, é outra gigante multinacional sul-coreana,
possuindo fábricas instaladas nos 4 continentes. Foi fundada em 1958 por Koo
In-Hwoi. O montante do seu faturamento anual está acima de US$ 500 bilhões de
dólares.
7. A sétima
posição é da SEMP TOSHIBA. Consta no sítio da empresa que a Semp
Toshiba é uma marca brasileira de equipamentos eletrônicos fundada em 1942 na
cidade de São Paulo por Affonso Brandão Hennel. A empresa contava com 3.220
empregados no final de 2011. Informa, ainda, a Wikipédia que em 2010 lucrou R$
2,2 bilhões e que em 2011 faturou R$ 1,6 bilhão, o que representa um aparente
paradoxo, que mereceria ser aprofundado. Talvez apenas talvez seja resultado da
concorrência com os gigantes sul-coreanos. Ao vir para a ZFM na década de 70 do
século passado firmou a parceria estratégica com a Toshiba, unindo o domínio
tecnológico japonês com a capacidade de produção da firma e marca nacional.
Portanto, é um ilustre representante do capital nacional no grupo dos oito
maiores faturamentos do PIM em 2006.
8. Finalmente,
o oitavo maior faturamento do PIM em 2006 é mais uma firma e marca de capital e
tecnologia japonesa, que é a Yamaha. A Yamaha foi fundada por Torakusu Yamaha
em 1955. Em 2005 contava com 39.300 empregados, tendo faturado US$ 12 bilhões e
lucrado US$ 900 milhões nesse mesmo ano, produzindo motocicletas, motonetas,
scooters e quadriciclos. Sem dúvida, outro gigante nipônico.
O capital e da tecnologia estrangeira presente na lista das maiores
empresas instadas no PIM não para por aí. Seguem-se: Sony; Benq, Gillete,
Panasonic, Jabil, Bic, Kodak, Pepsi-Cola, Showa, Thomson, Nissin, ... Enfim, se
todo o faturamento dessas gigantes mundiais fosse totalizado, certamente seria
maior do que o PIB brasileiro. Só os faturamentos dos dois gigantes
sul-coreanos, Samsung e LG, ultrapassam a monta de US$ 1 trilhão. E reproduzem
seus capitais realizando a mais valia global em qualquer local deste planeta
que lhes seja favorável e amigável como aqui na ZFM. Pois só a Samsung, de cuja
firma e marca sou fã pelo que representa ao se tornar líder mundial desbancando
firmas tradicionais estadunidenses, afirma em seu site que se fosse um país
seria o trigésimo quinto mais rico do mundo. É brincadeira, quando afirma que ¼
do seu capital intelectual tem grau acadêmico do doutor? Considerando que seu
contingente operário é de 489.000 funcionários, temos que 122 mil são profissionais
pesquisadores doutores! Esse número é quase igual ao total de doutores no
Brasil, que segundo o censo do CNPq de 2014, é de 140.272. Como a região Norte
ainda não superou a marca histórica de dispor de menos de 5% do total nacional,
podemos afirmar que o Amazonas dispõe de 1,5% desse total, que é de 2.078
doutores. E ainda teríamos de verificar quantos desses estão efetivamente
trabalhando nos chãos de fábrica de firmas locais e mesmo nos laboratórios do
chão acadêmico, na medida em que talvez a maioria se lance nas relações de
poder em busca de posição e status, deixando de atuar em pesquisas, para as
quais foram treinados e formados. Isso é insignificante frente ao poder e à
potência da Samsung para fins de desenvolvimento tecnológico e de realização de
melhorias e inovações. Mas é o que temos; temos que otimizar e potencializar, fazendo
mágicas e encantos. Não à toa a Apple briga nos fóruns internacionais quanto a
posse de patentes da tecnologia touchscreen, após a Samsung ter tido limitado
seu acesso às licenças e patentes que visavam o desenvolvimento de tecnologia
por meio de engenharia reversa avançada. A evolução da Samsung alcançou
inicialmente a cópia de produtos e processos transferidos de empresas
estrangeiras, depois focou a busca melhorias e inovações incrementais
conquistando mercados internacionais, e agora seu desafio são as inovações
transformadoras e revolucionárias para consolidar e ratificar sua posição de líder
mundial. Claro do ponto de vista da liderança econômica.
Portanto, trata-se de um absurdo dizer que essas firmas e marcas são
nossas porque estão instaladas no PIM, reproduzindo seus capitais sob o manto
de vantagens competitivas estáticas, só porque estão constituídas por leis
brasileiras. Igualmente trata-se de outro absurdo dizer que temos tecnologia
quando o PIM substitui importações pátrias de produtos dinâmicos, quando em
verdade essa tecnologia está embutida nos pacotes tecnológicos associados aos
projetos industriais, que exigem apenas o cumprimento de operações mínimas no
chão de fábrica para o gozo das vantagens competitivas estáticas. Numa
oportunidade passada ouvi um decano federado à classe patronal amazonense
dizer, talvez com endereço certo para este pensador, que a ZFM não tem
problemas com investimentos. Claríssimo que não, mas mantém dependência
industrial e tecnológica em níveis cada vez mais assombrosos, ao passo em que tarda
em acumular e expandir capital industrial em prol do autodesenvolvimento. Então, o que elas são desde o ponto de vista do autodesenvolvimento? São nossas parceiras de crescimento econômico; aportando capital e aplicando tecnologia, geram trabalho, pagam salários, recolhem tributos e difundem técnicas de gestão. Não é pouca coisa, mas não é tudo o que precisamos para o autodesenvolvimento. Precisamos fazer a tarefa de casa!
Então: dizer que as firmas e marcas líderes em faturamento do PIM são nossas é
o que digo constituem aberrações; dizer que a tecnologia associada a esse
faturamento é nossa é o que digo constituem delírios. E o que significam as
palavras aberração e delírio, segundo o dicionário
eletrônico Miniaurélio, respectivamente?
Substantivo feminino.
1.Ato ou efeito de aberrar.
2.Defeito, distorção.
3.Anomalia, anormalidade. [Pl.: –ções.]
1.Ato ou efeito de aberrar.
2.Defeito, distorção.
3.Anomalia, anormalidade. [Pl.: –ções.]
Substantivo masculino.
1.Psiq. Distúrbio mental caracterizado por ideias que contradizem a evidência e são inacessíveis à crítica.
2.Exaltação do espírito; desvairamento.
1.Psiq. Distúrbio mental caracterizado por ideias que contradizem a evidência e são inacessíveis à crítica.
2.Exaltação do espírito; desvairamento.
É importante fazer uma associação com os significados aqui reproduzidos
de esquizofrenia, aberração e delírio, pois a postura esquizofrênica encerra
distorções e desvarios, limitando e emperrando a crítica e, sobretudo, a
idealização de alternativas econômicas, desde a realidade real das coisas e
fatos econômicos. Há uma correlação, na medida em que aceitamos a ZFM como um
processo com fim em si mesmo, não encarando o desafio histórico de frente, não
só quanto à sua condição de projeto, mas, sobretudo, quanto à sua oportunidade
de ser entendido e adotado como meio para o autodesenvolvimento. Para tanto,
como já dito e redito, o capital social de Manaus precisaria idealizar,
dimensionar e implantar uma política industrial e tecnológica com base na
dimensão patrimonial das firmas locais. É muito mais factível e lógico
tentarmos trilhar o mito do desenvolvimento buscando realizar amazonidades do
que pensando em apenas consolidar as firmas e marcas estrangeiras sob o manto
da ZFM, que encerra contradições e limitações insolúveis do ponto de vista do
autodesenvolvimento. Isto é verdade mesmo que o nível do ambiente de inovação manauara, segundo determinada taxonomia elaborada por pesquisador qualificado da FGV, albergue iniciativas de melhorias e de inovações incrementais enquadradas num estágio pré-intermediário numa escala que vai até 7, onde se processam as criações e as invenções, isto é, a própria proximidade com a fronteira tecnológica. Basta observar as assimetrias e anacronismos históricos existente
entre o chão de fábrica do PIM e os bancos escolares e as bancadas
laboratoriais disponíveis no chão acadêmico, depois de observada a origem do
capital que lidera o seu faturamento:
1. Qual o
PPB que foi efetivamente reduzido sociologicamente de esforços de pesquisa e de
investigação locais sob o lema de produzir mais com menos?
2. Quais
foram as contribuições da academia local para as rupturas de engenharia de
processo de mecanismos semi-montados (SKD) para partes e peças totalmente
desagregados (CKD)?
3. Qual a
participação do Sistema Manaus de Inovação na revolução tecnológica que
transformou o tubo catódico em peça de museu e trouxe as novas tecnologias
associadas ao LCD, PLASMA e associações correlatas, quais OLED?
4. Qual,
enfim, a participação de academia local no desenvolvimento das tecnologias e
correlatas evoluções sequenciais de telefonia móvel ...; G3; G4; G5; ...?
Na
tradição védica há um texto sagrado clássico que se chama BHAGAVADGITA, que
reproduz um diálogo de Krishna para Arjuna. Arjuna se vê com medo de guerrear a
boa luta. Então, Krishna lhe fala palavras fortes e duras, gerando efeito positivo
não só para a resolução do problema existencial de Arjuna, mas o impulsionando
para o autoconhecimento. Malbaratando essa verdade védica inserida no contexto
da liberdade e da imortalidade, podemos dizer que essas palavras −
esquizofrenia; aberração e delírios – visam despertar o capital social de
Manaus para o autodesenvolvimento em busca da liberdade política e
independência econômica da Amazônia por meio das amazonidades, vale dizer, da
construção de capitalismo amazônico, que transforme insumos e saberes da
floresta em produtos e serviços realizados no mercado. Isso enquanto o
capitalismo for o sistema que organiza a humanidade no seu atual estágio de
evolução espiritual. É absolutamente indispensável que tomemos refúgio na
lógica genuína do sistema capitalista, que acumula lucros e apropria conhecimento
entre firmas, expressos em capital e tecnologia, e na lógica dos estados
nacionais, que os contabilizam em suas contas de comércio exterior. Devemos ter
coragem heroica para travar a boa guerra vertida ao mito do desenvolvimento,
indo para além da reprodução de capital e tecnologia de alheios e de alhures. Anexo,
um dx de esperança!
Anexo: Da Esperança
O professor Frank
Cruz defendeu sua tese de doutoramento, aprovada por unanimidade, com a
realização da pesquisa intitulada O Efeito da Substituição do Milho pela
Farinha de Apara da Mandioca em Rações de Poedeiras Comerciais em Manaus.
O trabalho,
defendido em audiência pública realizada em 29.10.04, foi a primeira tese de
doutorado em biotecnologia da Ufam e do Programa Multi-institucional de
Pós-graduação em Biotecnologia financiado pela Suframa.
A reportagem
denominada “Biotecnologia: resto de mandioca substitui o milho”, publicada no
jornal A Crítica de 02.11.04, página C8, sintetiza o trabalho conforme
trecho abaixo:
...Em sua
pesquisa, o doutor Frank Cruz conseguiu trocar o milho, um produto importado
pelo Estado, das rações para aves por um material produzido e encontrado em
abundância na Amazônia – a farinha retirada dos restos de mandioca cortadas nas
feiras de Manaus – sem alterar a qualidade do ovo produzido na região.
Os resultados da
pesquisa mostram vantagens econômicas aos produtores do ramo de postura
avícola...
Trata-se, portanto, de um exemplo
recentíssimo de criação de uma amazonidade, à qual toda a atenção deveria ser
dispensada. Temos dezenas, talvez centenas, quiçá milhares no futuro, de outras
criações que mereciam igualmente o mesmo tratamento. Poder-se-ia fazer uma
simulação da aplicação de uma política industrial e tecnológica à luz da do
modelo estadunidense, que fez do Estados Unidos a maior potência econômica do
planeta:
1.
Conceder
prêmio pecuniário ao autor;
2.
Incentivá-lo
a empreender a sua criação no mercado, financiando o investimento com taxa
zero;
3.
Proteger
a empresa nascente da competição predatória, inclusive estabelecendo barreira
tarifária para a entrada de produto concorrente no Estado;
4.
Conceder
subsídios até a consolidação do investimento;
5.
Estabelecer
incentivos fiscais para todos os insumos e matérias-primas utilizadas na
produção;
6.
Estabelecer
novos prêmios e incentivos financeiros para o desenvolvimento de inovações
tecnológicas de produto e de processo;
7.
Estabelecer
outros prêmios e incentivos financeiros para a conquista de novos mercados;
enfim,
8.
Oferecer
capacitação de todo ordem (gerencial; tecnológica; mercadológica; etc.) para o
sucesso do empreendimento.
Nota: Trata-se de um fragmento da
segunda edição do Redesenhando o Projeto
ZFM: um estado de alerta! uma década depois, publicada em 2006. Representa
mais uma demonstração inequívoca que com amor próprio e galhardia poderíamos
trilhar o mito de desenvolvimento pela vereda do autodesenvolvimento. Mais um
exemplo de combinação virtuosa de catching
up, na medida em que o pesquisador idealizou máquinas e equipamentos –
trituradores e secadoras, por exemplo – de tecnologia universal, com a
perspectiva do growing up, que se
utiliza de um insumo amazônico enquanto trajetória tecnológica alternativa,
trazendo benefícios para a ética da autossustentabilidade; ex ante, mitigando impacto ambiental utilizando a casca da mandioca
como insumo, e ex post, reduzindo déficit
na balança com a importação de milho. Mas, infelizmente, decorridos quase 11
anos desde a defesa da tese, não se tem notícias de que esse conhecimento tenha
sido transformado na forma de negócio, e, como tal, acolhido e protegido por
determinada política industrial e tecnológica amazonense que privilegie o
capital e a tecnologia local. Não sabemos nem mesmo se essa transformação foi
tentada.
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