quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Engenharia de produção + economia evolucionária + economia política + filosofia política = Capitalismo amazônico[1]
Capitalismo amazônico > [amazonidades + growing up] ∕ [economia de enclave + capacitação tecnológica tardia]
Gostaria de reforçar a necessidade de uma visão paraláctica[2] de que devemos nos posicionar sob ângulos diferentes sobre o corpo de conhecimento nos quais nos ancoramos para entender o processo de inovação no sistema capitalista. Tais perspectivas emergem em locais com o mosaico insumo x produto dos sistemas de inovação plenamente estabelecido do ponto de vista do capitalismo, exigindo apropriação do conhecimento e acumulação de lucros. Sabemos que exige mais, como, por exemplo, alienação, mas vamos ficar por aqui para continuar o raciocínio. Pense sobre a longa frase acima. Ela não é trivial e muito menos banal.
Sob outra perspectiva, vale dizer que os sistemas locais de inovação não são planos, isto é, apresenta desigualdades fundamentais entre si, tanto absolutas quanto relativas, o que sugere relevos de ambiência de inovação com profundas rachaduras e pontos altíssimos. Assim, analisar a emergência do Sistema Manaus de Inovação sem se posicionar em ângulos diferentes dos especialistas que elaboram conceitos a partir da análise de locais com essência capitalista, é repetir uma visão de dependência, colonizada. Num sentido ilustrativo, o sistema de inovação manauara está mais para um sistema público do que público-privado.
Quero dizer que não podemos reproduzir aqui em Manaus uma visão ingênua de um país tardiamente industrializado dependente de capital e de tecnologia para conduzir seu desenvolvimento. Não podemos nos iludir dizendo que Manaus faz inovação no contexto do PIM.
Acredito firmemente que pessoas líderes comunitários e formadores de opinião qualificada podem contribuir para essa inflexão abordando o contexto manauara em suas contradições internas, desde que incorporem uma visão em paralaxe. Desde que observem os locais sob angulações diferentes.
Quero dizer que nosso discurso institucional e político, em minha opinião, ficam devendo quando não aborda explicitamente a dimensão patrimonial das firmas do PIM, encarando como possível a inovação frente ao poço em que se encontram a oferta e a demanda tecnológica dos projetos industriais aprovados com seus intrínsecos pacotes tecnológicos.
Essa, em minha opinião, é o ponto fulcral para nosso desenvolvimento minimamente autônomo e interdependente. Precisamos criar firmas locais que possam jogar o jogo capitalista, o jogo da inovação tecnológica.
Todo o capital social de Manaus deveria perceber e adotar a perspectiva carente da dimensão patrimonial em relação ao PIM e ao sistema PÚBLICO de inovação que emerge em Manaus. Ou seja, não temos firmas locais – com capital – que possa estabelecer equilíbrio da sua demanda com a oferta tecnológica que se está construindo com a estruturação de massa crítica e laboratórios de P+D. Nesse engano, nessa ilusão apenas corremos atrás com a capacitação tecnológica tardia tentando suprir as necessidades tecnológicas do PIM. Ainda que essa estratégia venha a dar certo nos próximos 50 anos – e ainda não deu com os 44 anos de vigência do Projeto ZFM – estaríamos jogando um jogo em sentido contrário à lógica capitalista que acumula lucros e apropria conhecimento nas firmas nacionais.
Portanto, precisamos ACUMULAR PRIMITIVAMENTE CAPITAL!!! Minha tese é fomentar e incentivar com toda energia [tempo + dinheiro + conhecimento] EBTs vertidas às AMAZONIDADES!!! Essa deveria ser nossa trilha para os próximos 100 anos sob a égide de uma política de estado!!!
Há uma voz parlamentar que alimenta esse discurso nacionalista. Falo do deputado estadual Luiz Castro que já anda falando dessa necessidade, qual seja de construirmos uma política industrial para criar investimentos, além da disponível malha de incentivos fiscais para atrair investimentos [que é oportuna, mas não suficiente].

Mas, qual o patrimônio a que me refiro? É físico, financeiro ou humano?

O capital dominante. Aquele que subsume o trabalhador, aprisona o trabalho, mercantiliza a força de trabalho e torna o processo de trabalho meio de produção de mais-valia e, portanto, de reprodução do próprio capital. Poderemos até quebrar essa visão marxista, dizendo que desejamos a construção de capital sustentável.
Mas, precisamos de capital de toda ordem, sobretudo, econômico, cujo poder de compra – financeiro –proporciona todas as dimensões da firma NACIONAL que joga o jogo capitalista. Portanto, que constrói instalações e compra máquinas & equipamentos (dimensão física), que adquire e/ou desenvolve inovações (dimensão humano-tecnológica), enfim, que realiza investimentos (a própria dimensão econômica). Precisamos ter donos do capital com estruturas e estratégias empresariais globais, se apropriando da ambiência de inovação que está sendo construída em Manaus.
Claro que não existe autonomia absoluta, mas se deve buscar uma interdependência minimamente autônoma.
Na realidade, estamos falando sobre o determinante do conceito de cluster intitulado de estrutura e estratégia empresarial, cuja visibilidade está representada pelo diamante de Porter.
Precisamos construir em Manaus essa figura que chamo convergentemente de capitalismo amazônico, que, por sua vez, envolve vários vieses enquanto trajetória tecnológica de um novo marco civilizatório sob a égide da sustentabilidade lastreada por AMAZONIDADES realizadas então por capital & tecnologia local, endógena, fechando o circulo virtuoso que precisa ser construído.
Nessa perspectiva "macroeconômica" vinculada aos SLIs (lógica neoschumpeteriana - economia evolucionária) que o pesquisador Cláudio Nogueira tem várias sugestões que convergem, aqui acolá, para as argumentações do pesquisador Jonas Gomes, mas igualmente a perspectiva "microeconomica" completamente ou minimamente preenchida pelas firmas locais de capital & tecnologia própria, endógena. Precisamos entender que deve haver conexão entre tais perspectivas, isto é, o chão de fabrica tem que ter simetria socio-técnica com o chão acadêmico e institucional para que haja equilíbrio entre oferta e demanda tecnológica. Essa convergência, inclusive, aprofundaria as oportunidades da hélice tríplice.
Portanto, do ponto de vista nacionalista, o chão de fabrica deve ser de capital local. Isto não deve implicar xenofobismo, mas apenas autonomia relativa frente ao jogo político do capitalismo – economia política. Falo de um nacionalismo amazônico, pois precisamos qualificar a ocupação e o uso do chão amazônica sob a lógica da soberania nacional, da acumulação de lucros, da apropriação do conhecimento e da inovação tecnológica, sob a égide da sustentabilidade. Precisamos, portanto, de um exército de firmas locais de base tecnológica.
Caso isto não aconteça continuaremos colônia como se percebe que acontece em decorrência da dependência que a natureza intrínseca do Projeto ZFM determina, atraindo firmas maduras de outros países.
As EBTs, que podem ser tratadas e trabalhadas pelos SMI, representam uma possibilidade de equilibrar oferta & demanda tecnológica segundo AMAZONIDADES. PMEs é uma tendência do século XXI aonde o empreendedorismo será tão importante quanto a inovação o foi para o século XX.
Em prol da liberdade política e da independência econômica dos amazônidas - sentido de uma filosofia política.
[1] De responsabilidade de Antônio José Botelho. Reflexão surgida das discussões com Cláudio Nogueira, especialista em clusters de alto conhecimento, e com Jonas Gomes, especialista em qualidade, que tem escrito sobre mazelas do Sistema Manaus de Inovação [SMI].
[2] Paralaxe pode ser entendida como uma correção para se ler adequadamente uma realidade aparente frente a uma realidade racional.

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